Translate

quarta-feira, 27 de março de 2024

 

Podíamos ter seguido outro caminho

estatuadesal

27 de Março de

(Whale project, in Estátua de Sal, 26/03/2024, revisão da Estátua)


(Este artigo resulta de um comentário a um texto que publicámos, de Viriato Soromenho Marques, sobre a decadência da Europa e dos valores do Ocidente (ver aqui). Pela sua atualidade resolvi dar-lhe destaque.

Estátua de Sal, 27/03/2024)


Os “valores” ocidentais começaram, logo muito cedo, a ser impostos na expansão europeia dos séculos XVI e XVII. Eram os de civilizar as massas ignaras, muitas delas até canibais, que povoavam o resto do mundo.

Nós íamos levar a luz da civilização, do cristianismo e toda a conversa da treta semelhante. Na realidade, o que se queria era a exploração máxima dos recursos da terra; a população que lá vivia eram tidos como primitivos e brutos, sub-humanos, inferiores e não interessavam nada.

Pelo que, se África e Índia tiveram a sorte de ter climas corrosivos para a população branca - que impediram uma transferência em massa nesses primeiros tempos -, outro tanto não aconteceu na América, Austrália e Nova Zelândia. Aí, as populações residentes foram praticamente exterminadas por valorosos guerreiros cristãos, enquanto os nossos padres discutiam se eles tinham alma.

A população indiana sofreu vagas de fome terríveis, com a imprescindível colaboração de elites vendidas, enquanto os seus recursos agrícolas eram desviados para satisfazer as necessidades e os luxos dos colonizadores. A África sofreu a perda de 20 milhões dos seus filhos para o tráfico negreiro, com a colaboração de bandidos locais recrutados pelos traficantes.

Mas, foi o seu clima pouco ameno que os salvou da campanha de extermínio em massa, que caracterizou a atuação dos colonizadores na América, Austrália e Nova Zelândia. Claro que ninguém os livrou de serem pilhados dos seus recursos – através de capangas locais, e deserdados da sorte, que não se importavam de ir para a África arriscar-se às doenças que por lá havia, porque aqui não tinham nada. Mas, a não ser nas terras mais a Sul, com melhor clima, a transferência massiva de populações europeias nunca ocorreu. E foi isso que os livrou do destino cruel dos nativos americanos.

O problema é que, de algum modo, fomos sempre arranjando forma de achar que os russos eram de bandos de selvagens, não civilizados, a merecer as nossas campanhas civilizadoras - apesar de eles também serem brancos.

O que também lhes valeu foi que, em boa parte do território, o clima também não era bom mas, no Sul e na Crimeia, o caso piava mais fino. Os genoveses foram particularmente implacáveis a criar estações de comércio que compravam escravos aos tártaros da Crimeia e do Sul da Rússia que viviam da pilhagem. A escravidão por terras ocidentais, da Catalunha à Itália, foi o destino de milhares e milhares de desgraçados, enquanto outros iam bater com os ossos ao Império Otomano.

Foi para evitar estas razias de pilhagem - de que os ocidentais muito beneficiaram, porque tanto se lhes dava escravizar um negro, que consideravam pagão, como um branco considerado meio selvagem e pagão -, que ditou que a Rússia começasse a achar boa ideia conquistar os territórios à sua volta. O tal pavoroso Imperialismo russo.

O problema é que a mentalidade colonizadora, tal como as células terroristas adormecidas, não morreu nem morrerá. Como disse o escritor alemão Gunther Grass “isto nunca acaba, isto nunca acabará”. Podíamos ter seguido outro caminho. O caminho do negócio limpo, honesto, comprar e vender com lisura. Se não temos recursos temos pelo menos indústria, podíamos fazer isso.

A escritora de livros policiais com grande densidade psicológica, Agatha Christie, retratava o que significa, a nível individual, uma mentalidade destas no seu livro “Noite sem Fim”. Um sujeito, em vias de ser executado por assassinato, conta a sua história. Sempre fora adepto de conseguir o que era dos outros, custasse o que custasse. Matando, se necessário fosse. Aos 10 anos matara um colega, afogando-o num lago gelado, para lhe roubar um relógio que cobiçava. Acaba por casar com uma jovem norte-americana, decente e genuinamente apaixonada. Podia aí ter seguido outro caminho, refazer a vida com alguém que o amava, aproveitar os recursos que tinham. Mas optou por, mais uma vez, matar. Acabou, certamente, na ponta de uma corda.

Também nós podíamos ter seguido outro caminho, agora que a tecnologia que temos até nos permite. Temos técnicas de produção com as quais nem sequer podíamos sonhar no tempo das caravelas. A Rússia, até já se tinha deixado disso, de alternativas ao capitalismo.

Mas, tal como o protagonista de “Noite sem Fim” escolhemos o outro caminho. Não arrisco prognósticos sobre o destino para onde esse caminho nos vai levar. Mas, tendo em conta o fim de todos quantos até hoje tentaram destruir a Rússia, é capaz de não ser lá muito bom.

terça-feira, 26 de março de 2024

 

Crocus-Hocus-Pocus

estatuadesal

25 de Março de

(Dmitry Orlov, in SakerLatam, 24/03/2024)


Agradecemos a todos que expressaram suas condolências em relação aos eventos na Prefeitura de Crocus. Para aqueles que não prestam atenção às notícias (e quem pode culpá-los?), foi um ataque terrorista a um shopping center e a uma casa de shows perto de Moscou que tirou mais de cem vidas, incluindo crianças. O atentado foi cometido por quatro imigrantes do Tajiquistão que haviam recebido uma promessa de 500₽ (US$ 5.426,82) para atirar em algumas pessoas (e receberam apenas metade do dinheiro). Eles usaram armas automáticas que, com base nos enormes flashes do cano, já tinham visto dias melhores, para atirar em pessoas aleatoriamente e, em seguida, incendiaram o prédio disparando um lança-chamas nos assentos de um auditório. Em seguida, fugiram no mesmo carro que usaram para chegar ao local, atropelando um menino no caminho. Dirigiram em direção à fronteira ucraniana, onde agentes ucranianos haviam combinado de recebe-los do outro lado. Quando foram bloqueados, recusaram-se a parar. Quando os seguranças russos atiraram nos pneus do carro e ele capotou, três dos quatro fugiram a pé pela floresta pantanosa, mas foram cercados e presos. Todos eles confessaram prontamente seus crimes. No total, 11 pessoas foram presas e a investigação está em andamento, portanto, essas são todas as notícias concretas que podem ser divulgadas no momento; todo o resto seria insinuação, boato ou confabulação.

Mas agora vem a parte interessante: há uma nova mentira para acrescentar a uma pilha já estupenda de mentiras perpetuadas pelo estado profundo, pelo governo e pela imprensa ocidentais. Que é fisicamente possível derrubar três arranha-céus (WTC #1, #2 e #7) usando dois jatos de passageiros. Que a Pfizer e a Moderna produziram vacinas reais contra a Covid-19 em vez de armas biológicas relativamente ineficazes destinadas à redução da população. Que Joe Biden é o presidente dos EUA e não um substituto semi-robótico drogado do homem por trás da cortina (seja ele quem for). Que o dióxido de carbono atmosférico é um importante gás de efeito estufa que causa o aquecimento global, em vez de ser apenas alimento para plantas e bastante escasso. Se você é como a maioria das pessoas que vivem no Ocidente, então você simplesmente absorve essas mentiras junto com o mingau do café da manhã e nem pensa a respeito. Mas talvez você devesse.

A nova mentira é que o ataque à prefeitura de Crocus foi organizado pelo ISIS-K. O ISIS, também conhecido como Califado ou Estado Islâmico, foi um subproduto da invasão do Iraque pelos EUA, que os espiões norte-americanos prontamente abraçaram e apoiaram porque achavam que esses bastardos os ajudariam a derrubar o governo da Síria. Mas então a Rússia interveio e o ISIS não existe mais. O ISIS-K é um transplante de um remanescente do ISIS em Khorasan, no Afeganistão – pelo menos antes da retirada apressada dos EUA de lá. Seu destino é incerto; talvez todos tenham sido silenciosamente mortos pelo Talibã até o momento. O Talibã odeia esses fantoches organizados pelos americanos.

Os criminosos contaram praticamente a mesma história: foram recrutados pelo aplicativo Telegram enquanto viviam em um albergue para migrantes em Moscou e concordaram em fazer o trabalho porque eram um bando de perdedores muito, muito patéticos, sem nada a seu favor. Um deles não entende nem uma palavra de russo. Como os EUA saberiam algo sobre isso? Ah, espere, o ISIS-K é uma criação da CIA, é assim! E por que eles não compartilhariam essas informações com os serviços antiterroristas russos de antemão? Boa pergunta!

Outra coisa estranha é que houve um silêncio total sobre a questão por parte de todas as fontes ocidentais durante várias horas após o evento, até que todas elas se manifestaram ao mesmo tempo e… afirmaram que era o ISIS-K. Em seguida, começaram a dizer bobagens falsas de que o ISIS-K era a opinião consensual. O que isso nos diz é que houve uma enorme confusão e ignorância no Ocidente até que eles souberam que os terroristas estavam indo em direção à antiga Ucrânia e perceberam o que tinham que fazer: desviar a culpa dos ucranianos a todo custo. Ao folhear sua pequena pilha de grupos terroristas, os norte-americanos encontraram o ISIS-K e acharam que isso seria suficiente.

E agora, algumas perguntas:

– Por que os criminosos foram direto para a fronteira com a Ucrânia?

– Por que as autoridades ucranianas fizeram tão prontamente os preparativos para recebê-los do outro lado?

– O ISIS-K se infiltrou no regime de Zelensky?

– Ou será que a CIA, o regime Zelensky e o ISIS-K são todos uma família terrorista feliz?

Não vale a pena refletir muito sobre essas questões. O que parece óbvio é que os ucranianos organizaram o evento sem se preocupar em informar os Washingtonianos. E a razão pela qual eles se comportaram tão mal é que estão tentando chamar a atenção para si mesmos, como as crianças negligenciadas costumam fazer, agora que está claro que os americanos estão planejando abandoná-los como abandonaram o Afeganistão, ou o Vietnã do Sul, ou os curdos, ou… é uma longa lista. O melhor que o regime de Zelensky pode esperar conseguir é um nível maior de constrangimento para seu senhor e mestre negligente; eles não têm outras cartas para jogar. De qualquer forma, o regime de Kiev se transformará em uma abóbora em 21 de maio, quando Zelensky (tendo cancelado as eleições) deixará de ser um líder eleito e se tornará o que realmente é – um criminoso de guerra, um lavador de dinheiro para o clã Biden e um terrorista internacional. Isso vale para ele e para todos os seus capangas, e é improvável que os russos sejam particularmente gentis com eles.

Quanto às condolências… elas são muito boas, mas por que limitá-las apenas às vítimas recentes em Moscou? E quanto a todas as pessoas em Belgorod que estão sendo continuamente bombardeadas com armas fornecidas pela OTAN (foguetes Vampyr tchecos, especificamente)? A ação lá não é tão espetacular quanto o evento em Moscou, mas as mortes, os ferimentos e a destruição de propriedades são cumulativos. E o que dizer das milhares de pessoas em Donetsk que foram mortas e mutiladas por morteiros e artilharia ucranianos nos últimos 10 anos? Condolências, condolências…

 

A Ocidente, uma desolada paisagem

estatuadesal

25 de Março de

(Viriato Soromenho Marques, in Diário de Notícias, 23/03/2024)

Vamos esquecer, por agora, que há uma guerra europeia que se pode tornar mundial. Por amor à disciplina do pensamento crítico, enfrentemos esta dolorosa pergunta: o que é o Ocidente e quais os seus valores atuais? Comecemos pelos EUA, cuja perspetiva, seguindo as vozes autorizadas da Casa Branca e do Congresso, considera existir um saldo positivo desta guerra. O que está em causa não é, nem nunca foi, a vitória da Ucrânia, mas sim usar esse povo como aríete para enfraquecer a Rússia, de acordo com orientações estratégicas há muito públicas e publicadas.

Trinta anos a encostar a NATO às suas fronteiras, sobretudo na Ucrânia, levariam o Urso a acordar. Mas os EUA estavam em prontidão. As sanções, o ataque à exportação de petróleo e gás natural russos, o impedimento de mais oleodutos (sabotagem do Nordstream II), a fuga de cérebros, o fomento da instabilidade no Cáucaso, tudo isso já estava prescrito num vasto documento que mais parece uma declaração de guerra: James Dobbins et alia, Extending Russia. Competing from Advantageous Ground, Santa Monica, CA, Rand Corporation, 2019, 354 pp..

Nesse saldo positivo dos EUA, além da rutura dos laços entre Berlim e Moscovo, entra também o alargamento da NATO e a convicção de que a Europa vai aumentar, duradouramente, as compras em armamento norte-americano (quer ganhe Biden ou Trump), assegurando que o bom negócio, nutrido com centenas de milhares de mortos e estropiados na Ucrânia, não vai ser interrompido, mesmo depois do calar das armas.

E que pensar da UE, a outra metade do Ocidente? Nunca a Europa sofreu, em tempo de guerra, com líderes tão perigosamente impreparados para governar. Em setembro de 2022, o triunfalismo: a presidente da CE troçava dos russos, dizendo que a eficácia das sanções obrigava Moscovo a usar os chips dos eletrodomésticos para fins militares… Hoje, um pânico antigo (“Vêm aí os russos!”) percorre as capitais europeias. Basta ouvir o “valente” Macron, ou ler o apavorado Charles Michel. Não só a Rússia resistiu às sanções, como cresceu com elas, diversificando a sua economia (isso já estava a ocorrer, desde as sanções de 2014, por causa da Crimeia).

Surpreendentemente, a indústria militar russa suplantou o conjunto da produção ocidental em material bélico corrente, como obuses de artilharia. Mas partir daí para lançar a mentira incendiária de que a Rússia quer atacar a NATO é criminoso. Putin sabe que isso desencadearia uma autodestruição generalizada. Esta guerra, além de ter enterrado o Pacto Ecológico Europeu, significou uma total subordinação europeia aos interesses do complexo militar-industrial e energético que governa os EUA. O europeísmo foi engolido pela máquina trituradora do belicismo. Nos próximos anos, pendularmente, o nacionalismo regressará em força. A Alemanha será comprimida entre uma França ressentida e uma Polónia militarista, atrelada a Washington. Se, ou quando, o euro vacilar, a “balança da Europa” entrará em ebulição.

Finalmente, o genocídio em Gaza marca a certidão de óbito dos alegados “valores ocidentais”. O direito à vida tem um valor de mercado. Modesto para as vidas ucranianas. A preço de saldo para os corpos palestinianos.

Berlim, tristemente, repete a maldição de estar sempre no lado errado: apoia os autores do genocídio de hoje, porque estes foram vítimas do seu genocídio de ontem… O crepúsculo ocidental é desolador. Nem um pingo de transcendência. Uma ruidosa e amnésica vontade de poder, sem alma nem culpa.

 

É a guerra: o verdadeiro moedor de carne começa agora

estatuadesal

26 de Março de

(Por Pepe Escobar, in Strategic Culture, 23/03/2024, Trad. Estátua de Sal)

O jogo de sombras acabou. Agora é a céu aberto.


Evidência 1: Sexta-feira, 22 de março de 2024. É a guerra. O Kremlin, por intermédio de Peskov, admite-o finalmente, oficialmente. A citação: “A Rússia não pode permitir a existência nas suas fronteiras de um Estado que tem a intenção documentada de usar todos os métodos para lhe tirar a Crimeia, para não mencionar o território das novas regiões”. Tradução: O vira-latas de Kiev fabricado pelo Hegemon está condenado, de uma forma ou de outra.

Evidência 2: Sexta-feira à tarde, algumas horas depois de Peskov. Confirmado por uma fonte europeia séria – não russa. Tropas regulares francesas, alemãs e polacas chegaram, por via ferroviária e aérea, a Cherkassy, a sul de Kiev. Uma força numerosa. Não foram divulgados números. Estão alojadas em escolas. Para todos os efeitos, trata-se de uma força da NATO e é o sinal: “Que comecem os jogos”. Do ponto de vista russo, os cartões-de-visita do Sr. Kinzhal vão ser muito procurados.

Evidência 3: Sexta-feira à noite. Ataque terrorista em Crocus City, uma sala de concertos a noroeste de Moscovo. Um comando altamente treinado dispara à vista, à queima-roupa, a sangue-frio, e depois incendeia a sala de espetáculos. O contrassinal definitivo: o campo de batalha caiu, resta apenas o terrorismo em Moscovo. E, ao mesmo tempo que o terror atingia Moscovo, os Estados Unidos e o Reino Unido, no sudoeste asiático, bombardeavam Sanaa, a capital do Iémen, com pelo menos cinco ataques. Uma bela coordenação.

O Iémen acaba de concluir em Omã um acordo estratégico com a Rússia e a China para uma navegação sem entraves no Mar Vermelho e é um dos principais candidatos à expansão dos BRICS+ na cimeira de Kazan, em outubro. Assegurar à China e à Rússia que os seus navios podem atravessar sem problemas o Bab-al-Mandeb, o Mar Vermelho e o Golfo de Aden é trocar o apoio político total de Pequim e Moscovo.

Os patrocinadores continuam a ser os mesmos

Moscovo, na calada da noite, antes do amanhecer de sábado, dia 23. Quase ninguém está a dormir. Os rumores dançam como lobos. É claro que nada foi confirmado – ainda. Só o FSB terá respostas. Está a decorrer uma investigação exaustiva.

A data do massacre de Crocus é bastante intrigante. Uma sexta-feira durante o Ramadão. Os verdadeiros muçulmanos nem sequer pensariam em levar a cabo um assassínio em massa de civis desarmados numa ocasião tão sagrada. Comparem isso com a carta do ISIS, freneticamente brandida pelos suspeitos do costume.

Para citar os Talking Heads: “Isto não é uma festa/isto não é uma discoteca/ isto não é uma brincadeira”. Não, é mais uma operação psicológica americana. Os membros do ISIS são mercenários/bandidos de desenho animado. Não são muçulmanos a sério. E toda a gente sabe quem os financia e arma.

Isto leva-nos ao cenário mais plausível, antes da intervenção do FSB: capangas do ISIS importados do campo de batalha sírio – neste momento, provavelmente tajiques – treinados pela CIA e pelo MI6, a trabalhar por conta do SBU ucraniano. Várias testemunhas no Crocus falaram de “wahhabitas”.

O sérvio Aleksandar Vucic foi direito ao assunto. Estabeleceu uma ligação direta entre os “avisos” emitidos no início de março pelas embaixadas americana e britânica aos seus cidadãos - pedindo-lhes que não se deslocassem a locais públicos em Moscovo -, e o facto de os serviços secretos da CIA e do MI6 terem informações privilegiadas sobre possíveis atos terroristas e não as terem divulgado a Moscovo.

O enredo adensa-se quando se descobre que o Crocus pertence aos Agalarov, uma família bilionária do Azerbaijão e da Rússia, que são amigos muito próximos de... Donald Trump, o que faz deles um alvo óbvio do Estado Profundo. Derivados do ISIS ou da linha dura – os patrocinadores continuam a ser os mesmos. O palhaço do secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, foi suficientemente tolo para praticamente confirmar, indiretamente, que eles o tinham feito, dizendo à televisão ucraniana: “Vamos dar-lhes [aos russos] este tipo de diversão mais vezes”.

Mas foi Sergei Goncharov, um veterano da unidade antiterrorista de elite Russia Alpha, quem chegou mais perto de resolver o enigma: disse ao Sputnik que o autor mais provável do crime era Kyrylo Budanov - o chefe da principal direção de inteligência do Ministério da Defesa ucraniano. O "espião-chefe" que, por acaso, é o principal agente da CIA em Kiev.

É preciso ir até ao último ucraniano

As três evidências acima completam o que já foi dito pelo chefe do comité militar da NATO, Rob Bauer, num fórum de segurança em Kiev: “Precisamos de mais do que granadas. Precisamos de pessoas para substituir os mortos e os feridos”.

Tradução: A NATO está a deixar claro que esta é uma guerra até ao último ucraniano, e os “líderes” de Kiev ainda não perceberam. O antigo ministro das Infraestruturas, Omelyan, disse: “Se ganharmos, pagaremos com petróleo, gás, diamantes e peles russas. Se perdermos, não se vai falar de dinheiro - o Ocidente vai pensar em como sobreviver".

 Entretanto, o insignificante “jardim e selva”, Borrell, admitiu que seria “difícil” para a UE encontrar mais 50 mil milhões de euros para Kiev, se Washington cancelasse a operação. Os líderes de camisola, cheios de cocaína, acreditam mesmo que Washington não os está a “ajudar” com empréstimos, mas com presentes. O mesmo se passa com a UE.

O Teatro do Absurdo é inigualável. O chanceler alemão da salsicha de fígado acredita mesmo que os rendimentos dos bens russos roubados "não pertencem a ninguém", pelo que podem ser usados para financiar o armamento adicional de Kiev.

Toda a gente com dois dedos de testa sabe que usar os juros dos ativos russos "congelados", na verdade roubados, para armar a Ucrânia é um beco sem saída - a não ser que roubem todos os ativos da Rússia, cerca de 200 mil milhões de dólares, na sua maioria depositados na Bélgica e na Suíça: isso afundaria o Euro de vez e toda a economia da UE.

Os eurocratas fariam melhor se ouvissem Elvira Nabiullina, a grande “perturbadora” (na terminologia americana) do Banco Central russo: o Banco da Rússia tomará “medidas apropriadas” se a UE fizer alguma coisa em relação aos ativos russos “congelados”/roubados.

Escusado será dizer que as três provas, acima desenvolvidas, anulam completamente o circo "La Cage aux Folles" promovido pelo insignificante Pequeno Rei, agora conhecido nos seus domínios franceses como MacroNapoleão. Praticamente todo o planeta, incluindo o Norte Global anglófono, já estava a gozar com as "proezas" do seu Exército CanCan, Moulin Rouge.

Assim, soldados franceses, alemães e polacos, no âmbito da NATO, já se encontram no sul de Kiev. O cenário mais plausível é que se mantenham muito, muito longe das linhas da frente - embora seja possível localizá-los através das atividades comerciais do Sr. Khinzal.

Mesmo antes da chegada deste novo contingente da NATO ao sul de Kiev, a Polónia – que é o principal corredor de trânsito das tropas de Kiev – tinha confirmado que as tropas ocidentais já se encontravam no terreno.

Portanto, já não se trata de mercenários. A França, aliás, está apenas em 7º lugar em termos de mercenários no terreno, muito atrás da Polónia, dos EUA e da Geórgia, por exemplo. O Ministério da Defesa russo tem todos os registos exatos.

Resumindo: agora, a guerra deslocou-se de Donetsk, Avdeyevka e Belgorod para Moscovo. Mais à frente, pode não parar apenas em Kiev. Poderá parar apenas em Lviv. O Sr. 87%, que goza de uma quase unanimidade nacional, tem agora o mandato para ir até ao fim. Sobretudo depois de Crocus.

É bem possível que as táticas de terror dos capangas de Kiev levem finalmente a Rússia a devolver a Ucrânia às suas fronteiras terrestres originais do século XVII: privada do Mar Negro, e com a Polónia, a Roménia e a Hungria a recuperarem os seus antigos territórios.

Os ucranianos que restarem interrogar-se-ão seriamente sobre o que os levou a lutar - literalmente até à morte - em nome do Estado Profundo dos EUA, do complexo militar e da BlackRock. Tal como as coisas estão, o moedor de carne da autoestrada para o inferno está destinado a atingir a velocidade máxima.

segunda-feira, 25 de março de 2024

 

Há rastos digitais dos países da NATO e de Israel no ataque terrorista em moscovo?

estatuadesal

24 de Março de

(Wellington Calasans, In Twitter, 23/03/2024)

Todos sabem que o Isis não teria a menor chance de sobreviver na Rússia. Todos sabem que, desde 2016, os russos destruíram aquela milícia criada e treinada pelos EUA e Israel para servir de álibi aos seus próprios intentos.

O Isis é aquele tipo de "célula adormecida" que sempre resolve atacar quando a coisa está feia para o lado dos EUA e de Israel. O Isis nunca atacou Israel. Quanta coincidência!

Quando fui informado ontem (praticamente em tempo real) sobre o atentado, tive o cuidado de acompanhar as primeiras reações de todas as partes relevantes.

Não é exclusividade minha a certeza de que o "Estado Islâmico" não é nem estado, nem islâmico. Todos sabem quem criou, armou e treinou os mercenários que praticam barbaridades contra civis e recebem uma divulgação impressionante, minutos depois, na imprensa de propaganda da NATO. É preciso desenhar?

Vi muita pressa dos EUA em defender a Ucrânia e vi o lado russo recordar que há 15 dias os Estados Unidos emitiram um "alerta" de potencial ataque terrorista em Moscovo.

Confesso que o silêncio de Israel me chamou mais atenção. Aquela arrogância dos valentões sionistas de que "destruiriam a Rússia" (por causa da aproximação com o Irão) não foi celebrada pelos prepotentes.

Uma coisa que publiquei imediatamente - na verdade eu retweetei um post do Alexandre Guerreiro (que destacava as palavras de Dmitry Medvedev) - continha o lembrete de que "os russos sabem combater o terrorismo". Se eu sei disso, imagine o lado que patrocina o Isis...

NA IMPRENSA ALTERNATIVA NORTE-AMERICANA

Os relatórios iniciais de que o ISIS assumiu a responsabilidade pelo ataque terrorista em Moscovo pareciam rumores a princípio, e ainda têm sido objeto de escrutínio e debate generalizados, no entanto, a mídia dos EUA e funcionários do governo estão dizendo que, o Estado Islâmico, (ou a declaração ISIS-K) é autêntica.

Um ramo do Estado Islâmico assumiu a responsabilidade na sexta-feira pelo ataque em Moscovo que matou pelo menos 40 pessoas e feriu cerca de 100 outras, e as autoridades norte-americanas confirmaram a afirmação pouco depois”, escreve o The New York Times no final do dia.

Além disso, a inteligência dos EUA sabia que haveria um ataque iminente a Moscovo: "Os Estados Unidos recolheram informações em Março de que o Estado Islâmico-Khorasan, conhecido como ISIS-K, o braço do grupo baseado no Afeganistão, estava a planejar um ataque a Moscovo, de acordo com autoridades. Os membros do ISIS têm estado ativos na Rússia, disse uma autoridade dos EUA" de acordo ainda com o NYT.

O Kremlin havia exigido no início do dia respostas de Washington explicando por que a Embaixada dos EUA em Moscovo emitiu um alerta no início deste mês para que todos os cidadãos dos EUA evitassem locais públicos e fossem extremamente vigilantes. Anteriormente, informámos sobre a notificação da embaixada no início de março.

E o NY Times continua, citando autoridades dos EUA: "Depois de um período de relativa calma, o Estado Islâmico tem tentado aumentar os seus ataques externos, de acordo com autoridades antiterroristas dos EUA. A maioria dessas conspirações na Europa foi frustrada, o que levou a avaliações de que o grupo tinha as suas capacidades diminuídas."

RASTOS DIGITAIS DA NATO NO CASO DO NORD STREAM - A CRIANÇA COM A BOCA SUJA DE CHOCOLATE QUE NEGA TÊ-LO COMIDO

No aniversário de um ano dos atentados de sabotagem do oleoduto Nord Stream, em 26 de setembro de 2022, sob o Mar Báltico, o lendário jornalista Seymour Hersh forneceu mais contexto e cor com base em suas fontes de inteligência.

A reportagem bombástica original de Hersh no seu How America Took Out The Nord Stream Pipeline dizia que se tratava de uma operação altamente secreta da CIA, com a assistência de uma equipe de mergulho de elite da Marinha dos EUA, bem como da inteligência norueguesa.

Dada a acusação significativa de Hersh de que Washington conduziu uma “operação de falsa bandeira” – num momento em que muitos responsáveis ​​ocidentais foram rápidos a culpar Moscovo pela destruição dos seus próprios oleodutos, a Rússia, na sequência da reportagem de Hersh, apelou a uma investigação urgente das Nações Unidas sobre a sabotagem.

"LUGAR DE FALA" - A VOZ DA AMÉRICA POR ELES MESMOS

Há 7 anos, na campanha eleitoral, Donald Trump acusou o Presidente Obama e Hillary Clinton de terem criado o Isis.

"O Major Garrett tem a história e uma lição de história. Eu chamo ao Presidente Obama e a Hillary Clinton os fundadores do Isis. Ele ignorou o papel do Presidente Bush na retirada das tropas norte-americanas do Iraque", disse Trump.

Na sequência das palavras de Trump, Patty Davis, filha do Presidente Ronald Reagan, o último Presidente americano a sobreviver a uma tentativa de assassinato, escreveu no Facebook que "os comentários de Trump no início da semana sobre Clinton e a Segunda Emenda do Supremo Tribunal poderiam inspirar violência. Patty Davis disse que Trump sabe que as palavras são importantes, o que, segundo ela, "torna tudo isto ainda mais horrível".

PUTIN TAMBÉM HAVIA FEITO O ALERTA

Putin anos atrás:  “Obama diz que o ISIS é uma ameaça. Bem, quem os armou para enfrentar Bashar al-Assad? Quem criou o clima político/mediático necessário que facilitou esta situação para eles? Quem pagou para entregar essas armas a eles? O ISIS nunca foi um bando orgânico de combatentes pela liberdade. Eles são comprados e pagos por mercenários, lutando onde recebem mais", (ver link aqui).

REAÇÃO INTERNACIONAL

A tentativa recente de isolar a Rússia, sob a falsa alegação de fraude eleitoral de Putin acabou ontem. A diferença entre quem joga gamão e quem joga xadrez é que o primeiro não tem estratégia inteligente.

Este atentado uniu a Rússia em torno de uma grande solidariedade internacional. Até o Brasil, que precisa de autorização para comunicar com a Rússia, foi rápido a manifestar solidariedade aos russos.

Bielorrússia, Quirguizistão, Turquia, Paquistão, Egito, Cuba, Cazaquistão, Venezuela, Azerbaijão e até a ONU já condenaram os ataques. Dos países membros da NATO, a Itália foi pioneira na solidariedade aos russos.

NOTA DESTE OBSERVADOR DISTANTE

Este ataque uniu ainda mais o povo russo. Este ataque é a missa de sétimo dia daqueles que tentaram reduzir a expressiva vitória de Putin nas urnas. Este ataque joga os EUA e Israel para a linha de frente dos inimigos da Rússia.

Qualquer analista sério sabe que a Ucrânia não existe mais. Aquilo é um terreno de guerra que vai servir para alimentar de dinheiro a NATO, um mero tentáculo da maior máquina de corrupção do planeta que é o Pentágono. Mas também vai matar soldados dos países membros da NATO e isso vai piorar a situação dos fracos políticos destes países.

Israel sabe que mesmo que mate todos os palestinos, nunca mais terá paz e vai ter que mudar de endereço. Por isso é que Milei prepara a Patagónia para a nova morada sionista. Nunca é demais lembrar que a Argentina foi um dos principais centros de acolhimento de nazis após a retumbante vitória da antiga União Soviética contra as SS de Hitler, perdendo apenas para os EUA.

Os russos jogam xadrez, sabem ter paciência e sabem bem como chegar ao objetivo final. A estratégia de prolongar a guerra na Ucrânia está minando as economias dos países membros da NATO: os europeus (e eu vivo na região mais rica da Europa) estão condenados ao declínio.

Não acredito que os russos irão agir com as vísceras. Se para alguns isso soaria como covardia, vejo isso muito mais como sabedoria.

Mesmo assim, o desespero dos países ocidentais pode forçar os Russos ao recurso mais extremo, aquele que todos sabem que os russos vão usar se for necessário.

A hecatombe flirta com o nosso planeta. Aproveite o hoje, pois o amanhã é incerto. Have a nice weekend!