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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Hoje: «Pensadores da Economia» e debate sobre «Educação e Ciência»

ladroes de bicicletas

Posted: 07 Nov 2017 04:40 PM PST

Dois eventos à escolha nesta quarta-feira, 8 de novembro. Apareçam.
No âmbito do ciclo Pensar os Pensadores da Economia, promovido pelo Coletivo Economia Sem Muros e pela Cultra, Eugénia Pires orienta uma reflexão sobre John Maynard Keynes. É a partir das 18h00, na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Sala 117).
Promovido pelo Le Monde Diplomatique - edição portuguesa e pelo Observatório sobre Crises e Alternativas - CES, um debate sobre Educação e a Ciência no pós-troika, com a participação de António Avelãs (professor e dirigente do SPGL), Filipa Vala (investigadora), João Pedro Ferreira (economista e investigador) e Manuel Carvalho da Silva (sociólogo), com moderação de Nuno Teles. É a partir das 18h30, no CES Lisboa (Picoas Plaza).

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

“Economicamente correcto”? Não, obrigado.



por estatuadesal

(Sandro Mendonça, in Expresso Diário, 14/09/2017)

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Sandro Mendonça

O vírus do “politicamente correcto” não se vê mas é real. Teve origem na América do Norte há cerca de 3 ou 4 décadas e foi infectando outros países. Os sinais são qualquer coisa como a sensibilidade extrema por parte de uma elite urbana e bem-pensante de que todas as atitudes e a linguagem que ofendam determinados grupos supostamente descriminados devem ser denunciadas e eliminadas. Este filão do “politicamente correcto” veio de uma (à altura) “nova esquerda” que tinha perdido a batalha na arena da economia. Isto é, desistiu da luta de classes (se calhar isso dava muito trabalho!) e agarrou-se à bandeira identitária: isto é, investiu tudo em categorias como “género”, “raça”, “orientação sexual”, etc.

Contudo, o “politicamente correcto” é uma patologia. Mas não é uma patologia gratuita: dá de comer a muita gente. É pau para toda a obra e tornou-se, como se diz hoje em dia, uma “indústria”. Parte do seu problema essencial é a contradição. Por exemplo: 1) o facto é que para uma certa “esquerdinha adocicada” é fácil falar bater no peito em prol de ciganos mas na verdade não quer viver perto deles; 2) certos jornalistas iluminados de um certo diário generalista português exploram o filão o racismo do império português e fazem manchetes contra o racismo em Portugal não hesitando em usar os testemunhos de privilegiados académicos africanos bem conhecidos pelas suas atitudes racistas para com portugueses ou classistas para com os seus concidadãos e em usar a auto-vitimização para esconder manifestas faltas de competência.

Enfim, há algo hipócrita aqui: o “politicamente correcto” é não dizer o que efectivamente se pensa.

Porém, a direita não está imune a manifestações de outras estirpes desta família de vírus moderno. O fenómeno homólogo na direita é o “Economicamente correcto”, isto é, a insistência em medidas que sabe à partida que falham e que ela própria não desejaria de ver aplicadas a si.

Por exemplo, austeridade: a) na realidade não há provas que tenha funcionado para equilibrar as contas públicas em nenhum país em que tenha sido aplicada pois é uma política macroeconómica auto-derrotista, e b) sobretudo a austeridade é para os “outros”, para os assalariados e para o resto da plebe.

Que manifestações de “Economicamente correcto” por cá hoje em dia? Estas:

· CIP quer baixar o IRC: Deste o início da década de 1990 que a taxa de IRC baixa e isso só tem coincidido com a queda tendencial do crescimento da economia portuguesa. Portanto, nada permite presumir na prática que esta medida seja uma “bala de prata” para dinamizar a produção. Aliás, nem os custos do Estado nem os custos do trabalho são assim tão determinantes para as empresas que mais produzem e exportam…. O problema são os custos intermédios com electricidade, telecomunicações e financiamento. Então o que faz António José Saraiva, Presidente da CIP, quando aparecer a reclamar uma baixa radical de IRC?! É que se ele na sua empresa não admitiria um corte radical de receitas estando a oferecer o mesmo serviço aos clientes mas esquece-se que o Estado também é um agente económico que produz serviços para empresas e famílias. O que esses representantes do patronato perpetram é, portanto, o “politicamente correcto” aplicado à economiazinha.

· Greve na Autoeuropa é estúpida: A luta na Autoeuropa tornou-se uma polémica. Agita-se o papão do desinvestimento em Portugal…. com instabilidade laboral ninguém vai querer investir cá, dizem! Porém, sabemos como na Inglaterra ou até na Alemanha (pessoal da Lufthansa, levando ao cancelamento de milhares de voos) há greves …. países afinal sempre usados como alegadas fontes emanadoras do “economicamente correcto”. É que, como alguém explicou muito bem, muita gente que anda por aí a dizer isto e aquilo na internet mas afinal nunca desejaria para si ou para os seus filhos trabalhar sempre ao fim de semana pelas condições oferecidas.

· Junker, o integracionista: Junker num discurso de fuga para a frente acusa a Turquia de se afastar dos valores mas tolera no seio da UE experiências proto-fascistas como na Polónia e na Hungria. Essa é boa, Sr. Junker! A maior crise na Europa é de democracia, como a imposição de uma distribuição assimétrica dos custos da recessão económica bem mostrou…. E para Junker a cura para essa doença é, nada mais nada menos, que menos democracia! É que a sua proposta é um ministro das finanças não eleito para a Europa a mandar nos recursos públicos nacionais contornando os parlamentos eleitos. Tudo em nome da “eficácia”, como ele diz. Essa é muito boa, bravo!

Comércio internacional sem transparência e justiça económica é bom: Quase do dia para a noite foi marcada a votação do CETA (Acordo Global, Económico e Comercial entre o Canadá e a União Europeia) na Assembleia da República para 18 e 20 de Setembro. Cada um dos estados-membro da UE tem de proceder à sua votação e ratificação, mas isso arrisca-se em Portugal a suceder sem o mínimo de debate genuíno. Que haja pelo menos uma forte chamada de atenção pois o governo português está demasiado inclinado a fazer passar isto como se nada de mais se tratasse. Dia 18 frente à AR há o evento "24 horas contra o CETA" (ver detalhes aqui)… que seja um alerta pela transparência e justiça económica nos negócios internacionais
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domingo, 10 de setembro de 2017

O Governo que pense bem

Posted: 09 Sep 2017 09:50 AM PDT

Um país que baseia a sua economia nos serviços pessoais, em vez da indústria, está condenado a não se desenvolver. Isso os economistas sabem. É na indústria que a inovação gera aumentos de produtividade significativos e, se o sindicalismo não for tolhido por legislação neoliberal, uma parte desses aumentos traduz-se em subida dos salários reais. Estes aumentam a procura interna que, por seu turno, viabiliza novos investimentos. Gera-se um círculo virtuoso na economia que também acaba por beneficiar os salários dos serviços. Era assim nos primeiros trinta anos do pós-Guerra.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

O gambozino da maioria absoluta



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 22/08/2017)
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Este texto sugere-me alguns comentários caro Louçã:
1. A direita já viu que a Geringonça vai até ao fim da legislatura.
2. Tenta atrair o PS com "os cânticos da sereia" da maioria absoluta.
3. Prepara a saída de Passos Coelho para tornar acordos ao centro mais tentadores e menos indigestos para o PS.
4. Tenta convencer o PS que, mesmo sózinho, a maioria absoluta pode estar ao virar da esquina.
5. Tudo fábulas encantatórias. Em eleições gerais, em 2019, antevejo um reforço eleitoral dos partidos à esquerda do PS, se até lá não cometerem grandes asneiras, como, por exemplo, abrirem uma crise política.
6. E a razão é simples: todas as reversões na política de rendimentos que melhorou a vida das pessoas foram consequência das exigências ao PS feitas por esses partidos. Os eleitores viram que o seu voto quer no BE quer no PCP deixou de ser apenas um voto de protesto e que passou a ter influência na governação, logo nas suas vidas.
7. Logo, não há razão para que mudem o seu sentido de voto,, antes pelo contrário: muitos pragmáticos de centro-esquerda terão tendência a reforçar tal sentido de voto. Porque ele passou a ter relevância prática e para que o PS enterre de vez as suas tentações de construir alianças ao centro, tipo bloco central.
Estátua de Sal, 22/08/2017

Que há quem garanta que os gambozinos existem, é ponto assente; mas que nunca foi caçado tal bicho, parece mais do que certo. Descontando as inquietações popperianas sobre a dificuldade de refutar a primeira hipótese, resta o problema maior para os duvidantes: devemos caçar gambozinos na presunção de que existem ou de que não existem? A questão complica-se ainda mais para quem sustenta que a inexistência de provas documentadas sobre alguma aparição do animal sugere que se trate de uma ficção. Então, a questão passa a ser: devemos aceitar a ideia da caçada que tomamos por pueril ou devemos recusar o jogo, ainda que algum dia pudesse ser provado que a ausência do registo do bicho foi descuido nosso?


Voltar a falar de economia


por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 22/08/2017)
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Entre praias, incêndios, falsos suicidas, assaltos mal esclarecidos e, mais recentemente, atentados terroristas, pouco se tem falado do país e quando se fala a seriedade não é muita, como aconteceu com a resposta do líder parlamentar do PSD a propósito da proposta de António Costa em relação às infraestruturas.
É evidente que a direita não quer falar de economia, Passos e Cristas são agora devotos do diabo e já não analisam a realidade pelas páginas de economia, preferindo os obituários. O jornal preferido da direita já não é o Expresso, o tipo de notícias que mais excitam Passos e Cristas é mais o tipo de jornal que mostra mortos e feridos, assaltos e escândalos na primeira página. Até o Observador já parece outro, depois de meses a dedicar a home page a notícias sobre subidas de juros ou entrevistas com analista de empresas de rating, dedica-se agora a incêndios, um dia destes ainda vamos pensar que o José Manuel  Fernandes é porta-voz da Liga dos Bombeiros Portugueses.
Compreende-se que a direita fuja do tema economia como o diabo da cruz, as boas notícias para o país não são a praia de Passos e Cristas. Mas a verdade é que quando os incêndios estiverem apagados o país será confrontado com a realidade e mesmo que as boas notícias desagradem à direita teremos de falar de economia. Há todo um presente e um futuro para discutir, ainda há gente a sofrer com a austeridade, há muitos portugueses que ainda têm de suportar a sobretaxa, há impostos a mais, há problemas para resolver.
Oxalá os problemas económicos pudessem ser apagados como se apagam os incêndios, mas isso não sucede. Quando algumas populações mais atingidas pelos incêndios já estiver esquecida do verão de 2017, ainda subsistirão muitos problemas na economia portuguesa. É por isso que é urgente voltar a falar de economia, debater as propostas do governo e exigir a Passos e a Cristas que digam o que querem.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Dez anos de irresponsabilidade e outra vez na mesma


por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 15/08/2017)
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Disse-se a semana passada que foi a 9 de agosto de 2007 – portanto há dez anos – que se teria iniciado essa confusa sequência de acidentes e pânicos que viria a ser chamada a “crise do subprime”, primeiro, e Grande Recessão, depois. Não é exacto.
De facto, em fevereiro desse ano já tinha havido avisos: o HSBC, um dos maiores bancos do mundo, tinha subitamente aumentado as provisões para créditos em risco, precisamente por causa das hipotecas subprime nos Estados Unidos (que correspondem a devedores com garantias frágeis). No Verão, dois fundos especulativos do Bear Stearns, outro banco gigante, faliram graças a dificuldades no subprime. Então, a 9 de agosto, o BNP Paribas suspendeu os pagamentos em três fundos e esse foi o sinal de alarme para os bancos centrais em Washington e Frankfurt. Foi apesar de tudo uma surpresa: o papa da economia ortodoxa, Robert Lucas, laureado com o Nobel, tinha declarado solenemente que “a macroeconomia foi bem-sucedida: para todos os efeitos, o seu problema central de prevenção de depressões foi resolvido, e há já muitas décadas”. Isto foi logo antes da pequena crise de 2003 e da grande crise de 2007, o que o levou a reconhecer então, contristado, que “todas as semanas mudo de opinião quanto à regulamentação bancária. Era uma área que me parecia controlada. Já não acredito nisso».

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Rogoff, o esquerdista que quer perdoar as dívidas


por estatuadesal
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 07/08/2017)
nicolau

Está visto que os esquerdistas querem todos a mesma coisa: que a dívida do país seja perdoada. Agora, até arranjaram um reforço de peso, um tal Kenneth Rogoff, um economista norte-americano, que deve ter na mesinha de cabeceira a foto da Catarina Martins.
Pois não é que o tal Rogoff deu uma entrevista ao Expresso, publicado na edição de papel este sábado, dizendo que, na resposta à crise iniciada em 2008, “o erro maior foi a Europa e o FMI (…) terem recusado o perdão ou a mutualização das dívidas da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha”? É preciso topete! Então aos credores, aos que nos ajudaram, aos que meteram cá dinheiro, não lhes devíamos ter pago?! Onde é que já se viu empréstimos a fundo perdido? Isso é o que a Catarina Martins quer e o Francisco Louçã e a Mariana Mortágua e mesmo aquele Pedro Nuno Santos, do PS. E agora temos este Rogoff a dar-lhes cobertura. É comuna, de certeza.
Aliás, não é só comuna: também alinha com o Sócrates, o que é ainda mais grave! Sim, noutra das respostas diz que o segundo grande erro no combate à crise foi “não se ter aumentado significativamente a despesa em infraestruturas”. Ora foi isso mesmo que o Sócrates fez! Ele foi o Parque Escolar, o luxo asiático nas escolas, as eólicas, aquelas rendas excessivas, os investimentos de proximidade, eu sei lá! Foi um fartar vilanagem! E depois demos com os burrinhos na água e tivemos de ir a correr pedir ajuda internacional. E depois de nos emprestarem o dinheiro, o americano queria que não o pagássemos?! Este Rogoff também deve ter ido visitar o Sócrates à cadeia, ai deve deve, só que como os jornalistas não o conheciam não lhe perguntaram o que tinha ido lá fazer.
E mais. Diz que “os constrangimentos aos défices orçamentais, impostos pelo Tratado de Maastricht, não fazem sentido em condições de recessão profunda”, pelo que “deve permitir-se aos países terem défices maiores em períodos de recessão a troco de se comprometerem com orçamentos equilibrados ou mesmo com excedentes quando as suas economias estiverem a crescer acima da tendência”. O homem é um subversivo! Um revolucionário! Quer colocar tudo em causa! Quer implodir a ordem estabelecida! É preciso regras, porque sem regras a União Europeia não funciona! Há que impor disciplina aos países gastadores do sul, se não usam o dinheiro todo em vinho e mulheres, como bem disse o Dijsselbloem! Desconfio que este Rogoff é que é o diabo cuja vinda era anunciada por Passos Coelho! Leu o pensamento da Mariana Mortágua e encarnou o espírito da Marisa Matias! Não sei mesmo se não consulta periodicamente o Jerónimo de Sousa, que é pessoa para lhe segredar exatamente o que ele disse!
Ainda por cima diz que o maior risco que existe atualmente para a economia mundial é “uma administração Trump errática”. Aí está! O homem é contra o Trump! Deve ter apoiado a Hillary… Qual Hillary! Deve é ter apoiado o Bernie Sanders e mais aquelas ideias malucas e revolucionárias que ele tinha. E só apoiou a Hillary, se apoiou, porque é contra o Trump. Um esquerdista, é o que é. Se não vivesse nos Estados Unidos era guerrilheiro, de certeza, com boina à Che Guevara, com estrelinha e tudo!
Ora deixa cá confirmar no Facebook quem é este Rogoff. Formou-se em Yale. Hum… O Mário Centeno não tirou lá a pós-graduação? Depois, o tal Kenneth Rogoff fez pós-graduação no MIT. Ai está! Ali é tudo muito liberal… Professor de Economia em Harvard? Isso é mais surpreendente. Harvard não costuma dar cobertura a revolucionários. O quê? Também foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional? Deve ter sido no tempo do Dominique Strauss-Kahn, em que o FMI era uma animação. Ah, foi antes? Está bem. Mas podia ter sido no tempo do Dominique. E também foi campeão de xadrez sub-21 nos Estados Unidos e grande mestre internacional? Lá está. Esses tipos do xadrez são todos de esquerda. O Capablanca, o Petrosian, o Spassky, o Karpov, o Kasparov… Mesmo o Fisher não sei se não era de esquerda. Em qualquer caso, era um génio mas não era bom da cabeça.
Estou esclarecido. Este Kenneth Rogoff não me engana. Se fosse português votava no Bloco de Esquerda, de certeza. Onde já se viu um economista sério e competente defender o perdão das dívidas soberanas?

segunda-feira, 27 de março de 2017

2,06%! (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 27/03/2017)
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Que título, dirão vocês? É realmente esquisito, mas não é nem um número mágico, nem tão pouco um número cabalístico.
Andaram para aí a vender que seria 2,1%, que seria o mais baixo défice orçamental da nossa Democracia e eis que o Cadilhe, logo secundado pelo Passos, vem dizer: Na,Na,Na,Na…em 1989 eu também atingi esse valor: 2,1%, nada mais nada menos! Porque ninguém se lembra, perguntava ele indignado?
E eis que o INE vem dizer que, afinal, estavam todos errados: o Défice final foi de 2,06%!
Foi bom? Foi! Foi óptimo? Não! Mas porquê, perguntar-me-ão?
Não é por nada do que argumentou a Oposição, que está numa fase em que não sabe o que diz, por muito que o Marques Mendes na sua “missa” dominical os chame  à atenção, mas porque continua a ser um défice. E havendo um défice ele tem que ser colmatado. Como? Com mais Dívida. E mais Dívida é mais dependência, que é o contrário de independência, quer se queira quer não.
Claro que esta redução do défice é extremamente positiva, e por várias razões:
· Demonstra à saciedade que existia alternativa ao “não havia alternativa”!
· Que essa alternativa não passava pela simples austeridade sempre sobre os mesmos, tidos por únicos responsáveis pelo descalabro das contas públicas.
· Porque se demonstra que os Bancos portugueses e internacionais, os verdadeiros grandes responsáveis tinham, não pés de barro, mas pés de areia e movediça…
· Que a paz social, as reversões e a confiança geral que, por si só, impulsionam a economia, são mais importantes que quaisquer discursos macroeconómicos, sempre discutíveis.
Mas não basta ter descido em 2016. É preciso que a trajectória continue descendente, e o Governo assim promete e tem orçamentado. Porquê? Porque só assim se fundamenta sem quaisquer hesitações e suspeitas por parte das instituições europeias a sua sustentabilidade e a certeza de um caminho correcto para afirmação política deste Governo e desta solução governativa.
E quando se fala em pelotões, como se de uma prova ciclista se tratasse, é bem melhor ir à frente, do que se ter que fazer um esforço de recuperação que pode ser inútil. Para mais porque, a ser verdade que o BCE vai a partir do fim do ano restringir as compras de dívida pública dos países sujeitos a resgate, é necessário apresentar bons índices de rendibilidade, de execução orçamental, de diminuição do seu défice e de aumento do saldo primário, para que o “garrote” do serviço da dívida possa apresentar um menor peso e as renegociações constantes de “tranches” da nossa dívida, possam ser efectuadas por prazos mais longos e com juros mais baixos, de modo a fazer com que ela “coma” cada vez menos parte da nossa receita e mesmo superavit.
O objectivo deste governo tem que ser, portanto, o de atingir o défice Zero, é o que eu penso. E porquê? Porque, diz a nossa experiência profissional e de vida, que nunca se consegue negociar bem quando se está na mó de baixo. Quando se vai de chapéu baixo ou de calças caídas. Só se negoceia bem quando se tem argumentos, é da vida e dos livros.
Por isso falar-se em “reestruturar” a dívida é inapropriado porque, não sendo o mesmo que “renegociar”, ela remete para algo como um “haircut” (redução ou corte da mesma), que só acontece quando não se consegue mesmo pagar e se fica sujeito a todas as condições.
Falar em “renegociar” já é coisa bem diferente pois, apresentando números progressivamente fiáveis, favorece a aceitabilidade por parte dos detentores da dívida para a tal extensão da mesma, em condições mais favoráveis e dentro do “sistema” onde se integra. E é minha convicção que essa tal “renegociação” só se alcançará com sustentabilidade financeira (sem défice e consequente aumento dessa mesma dívida) e que só poderia ter alternativa de emissão de dívida interna (emissão de obrigações do tesouro, bilhetes do tesouro e instrumentos afins) se a nossa poupança interna não fosse o que é e o nosso sistema financeiro fosse outro também…
De modo que, finalizando, é com alguma preocupação que vejo o Bloco de Esquerda apresentar um discurso absolutamente errático e sem quaisquer soluções alternativas. Assim como se aquilo que eu deseje seja aquilo que escrevi. Não é! Como a minha vida também não o é. É o que é, é o que pode ser e, se não conseguir suster os meus gastos, que outro caminho me resta?
Posição diferente é a do PCP, que não é novidade, há muito que não o é, e é sim uma afirmação de denúncia e de aviso para, a não serem conseguidos, sou levado a pensar, os objectivos que atrás enunciei, Portugal se vá preparando para um “Euroexit”. Com que custos? Esse é que é o problema!
Por isso, neste momento, tendo-se alcançado aquilo que nunca se alcançou, tendo-se conseguido uma afirmação perante a CE que não existia, sendo possível apresentar argumentos, em suma, creio ser salutar continuar este caminho, para mim o caminho certo.
Quem não estiver de acordo que objete e apresente outro. Por isso eu entendo que, sendo legítimas as críticas e as objecções dos dois Partidos mais à esquerda e que suportam a nível parlamentar este Governo, estes devem medir bem aquilo que dizem e propõem porque, julgo estar certo e eles devem ter essa consciência, numas próximas eleições, depois de uma recuperação do País, ninguém compreenderia a apresentação de alternativas de muito difícil imediata sustentação e seriam fatalmente afectados eleitoralmente.
Eu coloco e todos podemos colocar todas as reticências ao rumo que a Europa leva etc, mas, quer queiramos quer não, é a que temos. E o que temos é que, dentro da que temos, conseguir a nossa afirmação!
Por tudo isto continuo a apoiar este Governo!
 
Ovar, 27 de março de 2017
Álvaro Teixeira

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Uma economia em aceleração

 

(João Galamba, in Expresso Diário, 20/02/2017)
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Mais uma dor de cabeça para Passos Coelho. O raio do diabo parece que ensandeceu de vez. Só dá boas notícias ao governo e enxaquecas à oposição tremendista e amante do apocalipse. Caro Coelho, está na hora de mandares vir um exorcista para expulsar o demo do país. Mandaste-o vir e, por esta hora, já estás arrependido. Os portugueses são tramados: enquanto tu fazes figas,  e queres que eles empobreçam, eles lá vão trabalhando, levando o país para frente, e afastando dessa forma as tuas profecias da desgraça.
Estátua de Sal, 20/02/2016

A economia portuguesa fechou o ano a crescer acima da média da Zona Euro e da UE, algo que não acontecia desde o segundo trimestre de 2015. Tendo em conta a dinâmica ao longo de 2016 e os dados já conhecidos de 2017, podemos afirmar que estamos, finalmente, a assistir a uma retoma sustentável da economia e do emprego, com o consumo privado a acompanhar o crescimento do emprego e do rendimento disponível das famílias, com o investimento público e privado a aumentar e com um crescimento robusto das exportações.
A economia portuguesa começou a ter taxas de crescimento positivas no 4º trimestre de 2013, quando a economia cresceu 1,9%. Depois disso, em 2014, ao invés de acelerar, como aconteceu com Espanha, a economia estagnou em tornou do 1%, acabando o ano a crescer apenas 0,7%.
Espanha começou 2014 a crescer 0,6%, mas acabou o ano a crescer 2%, quase o triplo de Portugal. A aceleração da economia espanhola continuou em 2015: começou com a economia a crescer 2,7% e acabou com 3,5% de crescimento, o maior da zona euro. Portugal teve o comportamento oposto: começou a crescer 1,7% e acabou o ano em desaceleração, crescendo apenas 1,4%.
Em 2016, pela primeira vez desde que Portugal saiu da recessão de 2011-3, a economia acelerou ao longo do ano. Tal não aconteceu em 2014 nem em 2015, só em 2016. Depois de um primeiro semestre que prolongou o arrefecimento que vinha do segundo semestre de 2015, a economia acelerou de 0,9% para 1,6% no terceiro trimestre e para 1,9% no quarto. A economia espanhola teve o comportamento oposto: desacelerou ao longo do ano. De acordo com todos os indicadores de confiança de Janeiro, publicados pelo INE, o crescimento do segundo semestre de 2016 ter-se-à consolidado e reforçado no início deste ano, o que abre boas perspectivas para, no início de 2017, Portugal crescer acima dos 2%. Seria o melhor crescimento económico desde 2007.
Depois de uma forte desaceleração ao longo de 2015, que se prolongou durante o primeiro semestre de 2016, as exportações aceleraram e terminaram o ano a crescer aproximadamente 10%. A produção automóvel aumentou mais de 50% em Janeiro, o que mostra que 2017, também nas exportações, será um ano de reforço dos resultados de 2016. Não esquecer que a Auto Europa, um dos nossos maiores exportadores, teve uma redução significativa da sua actividade ao longo do ano de 2016 e vai produzir e exportar um novo modelo em 2017. Tal não deixará de ter impacto nas exportações portuguesas. De acordo o com o Inquérito sobre Perspectivas de Exportação de Bens (IPEB), realizado em novembro de
2016 pelo INE, as empresas portuguesas de bens perspectivam um crescimento nominal das exportações de 5,3% em 2017, o que representa uma aceleração de 1,3% em relação a 2016.
O investimento estagnou no segundo semestre de 2015 e caiu, em termos homólogos no início de 2016, mas melhorou nos segundo e terceiro trimestres e teve uma forte recuperação no final do ano, como refere o INE. O comportamento negativo do investimento ao longo de grande parte de 2016 deve-se exclusivamente à construção e ao investimento público co-financiado por fundos europeus, uma vez que o investimento empresarial teve um crescimento superior a 6%, em forte aceleração face a 2015. A recuperação do investimento no final de 2016, que se vai reforçar ao longo de 2017, deve-se à recuperação da construção e de uma aceleração na execução dos fundos europeus. Quer os indicadores de confiança na construção do final de 2016 e do início de 2017, quer as vendas de cimento - que foram negativas nos três primeiros trimestres de 2016, marginalmente positivas no quarto trimestre, e cresceram 28,5% em Janeiro – mostram que a construção, que representa mais de metade de todo o investimento feito no país, está em recuperação. O mesmo se passa com o investimento público que, depois de uma queda em 2016, deve crescer mais de 20% em 2017.
O consumo privado, ao contrário do que aconteceu em 2013-5, não foi feito à custa da taxa de poupança, o que reforça a dimensão de sustentabilidade do crescimento de 2016, bem como a adequação da estratégia de aumento de rendimento das famílias preconizada pela actual maioria. Com cerca de 100 mil novos empregos em 2016 e com o aumento dos salários, incluindo o salário mínimo, com descongelamento e aumento das pensões e de outras prestações sociais, como o abono de família, o CSI ou o RSI, com o alargamento a mais de 800 mil famílias da tarifa social de electricidade, o rendimento disponível das famílias teve um forte aumento, o que permitiu que o consumo cresça, de forma sustentável, acima dos 2%. A manutenção a aprofundamento das actual estratégia, que consta do orçamento do Estado para este ano, é, pois, essencial para que o crescimento do consumo se mantenha sustentável.
O facto de tudo isto ter acontecido com um défice orçamental que bateu mesmo as expectativas mais optimistas, ficando abaixo dos 2,1%, e com o reforço do saldo da balança de bens e serviços, mostra que, contrariamente ao que alguns afirmavam ser inevitável, a actual estratégia económica e orçamental não só é sustentável como tem melhores resultados que a anterior, quer na frente económica, quer na frente orçamental, quer na frente social.

Ovar, 21 de fevereiro de 2017
Álvaro Teixeira