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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Canalhas, cabrões e filhos da puta

aventar_fb_header

por João Mendes

Nunca Paulo Portas fez tanto sentido. Exceptuando, claro, quando deu aquela célebre entrevista, em que falava dos quadros muito medíocres do seu antigo partido. Mas esta tirada, do longínquo ano de 2010, imortalizada por este tweet do seu partido, é tão actual que me merece algumas considerações, ou não atravessássemos hoje um dos períodos mais negros da nossa história contemporânea, com esta vaga de fogos florestais, devastadora e mortal.

Ora, efectivamente, fazer politiquice com o flagelo dos incêndios é imoral. Eu diria mesmo que é uma filhadaputice, só ao alcance da mais desprezível cria da mais ordinária meretriz, ainda que a senhora, coitada, não seja responsável pelas canalhices do rebento gerado. Porque é preciso ser-se muito canalha, muito cabrão, para usar a oportuna terminologia que está a marcar o debate no Aventar desde ontem, para usar este drama como arma de arremesso político. Infelizmente, não estamos perante uma novidade no debate político, onde a moralidade raramente tem lugar e a filhadaputice abunda. Ler mais deste artigo

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Banha da Cobra

por José Gabriel


Parece que Paulo Portas botou por aí "oração de sapiência". Tanto bastou para que jornalistas sortidos ficassem em estado de êxtase e com o sistema endócrino desatinado. Nunca compreenderei a adoração que leva os fiéis a queimar incenso aos pés deste vendedor de banha da cobra, deste homem de vão saber, tratando-o como o mais profundo dos pensadores.
Valha a verdade, esta veneração diz mais sobre os crentes que sobre o seu ídolo. Quem ainda tem paciência e estômago para frequentar jornais percebe isto muito bem.
Fonte: Aventar

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Estava-se mesmo a ver



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 19/09/2017)
vistos gold
Os vistos Gold de Paulo Portas
Era mais do que óbvio que o esquema dos vistos gold iria atrair a nata da criminalidade mundial, compravam uma casa em Portugal e tinham direito a residência e a circular livremente na Europa. O dinheiro fácil começou a aparecer, houve quem se dedicasse ao negócio da intermediação e o Paulo portas dizia cobras e lagarto de quem ousasse criticar o esquema.
O negócio atraiu os do costume e lambuzaram-se de tal forma que alguns, incluindo um ministro de Passos Coelho estão a contas com um processo judicial, tendo dado lugar aos primeiros casos de corrupção ao mais alto nível do Estado. As grandes imobiliárias ficaram excitadas e algumas boas famílias decadentes venderam os seus palacetes a bom preço.  Agora sabe-se que a Comissão Europeia está preocupada com a concessão de vistos gold a gente corrupta (Ver noticia aqui)
Paulo Portas desancava em quem ousava criticar o esquema e designava o esquema por investimento. Entretanto, Paulo Portas desapareceu, muito provavelmente anda a fazer negócio com “investidores” do género que os vistos atraíram, o esquema ainda existe, mas os resultados são mais do que escassos.
Que investidores queremos para Portugal? Chineses que enriqueceram à pressa, brasileiros em fuga ou generis angolanos? Isto é o lúmpen do capitalismo, figuras falhadas da corrupção que sentem a necessidade de assegurar uma fuga provável e de garantir um local onde possam viver tranquilos. Chamar a isto investidores é gozar com o país.
Não é destes investidores que Portugal precisa, esta gente não traz qualquer progresso e as suas empresas prosseguirão no país com os esquemas fáceis com que enriqueceram nos seus países de origem. Portugal precisa de bons investidores, gente que traga know how, competitividade, atividades de alto valor acrescentado, empresas que apostem na qualificação, na investigação. É nestes investidores que Portugal deve apostar e para isso é preciso muito mais do que vistos com mel para corruptos.


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

No PSD de Passos tudo como dantes (ou talvez não)

Posted: 15 Aug 2017 04:57 PM PDT

Duas notas sobressaem no discurso de Passos Coelho no Pontal. Por um lado, o regresso ao passado em termos de narrativa: o ex-primeiro ministro volta a assumir as reformas estruturais como linha política do partido, acusando a atual maioria de imobilismo e o Governo de «não ter um espírito reformista», correndo-se o risco de «ter perdido uma legislatura a viver à conta do que se fez no passado e da conjuntura e nada a preparar o futuro». Para o Passos Coelho, era agora necessário «prosseguir algumas reformas lançadas pelo seu executivo com o CDS», para que o país pudesse «ter “fôlego” no futuro». Contudo, para o ex-primeiro ministro, a preferência da atual maioria de esquerda «pela estatização e pela coletivização» está a impedir o avanço de reformas na área do Estado, na Saúde, na Segurança Social e no emprego.
Desta forma, e ao arrepio de tudo o que foi dito durante o último ano sobre supostos cortes nos serviços públicos e a deterioração do Estado Social, ou sobre a excessiva rapidez na reposição de rendimentos, Passos Coelho volta a falar no seu projeto político para o país, fazendo-nos recordar de imediato o Guião para a Reforma do Estado de Paulo Portas, a ideia de que os cortes em salários e pensões deveriam tornar-se permanentes ou, recuando um pouco mais no tempo, a proposta radical de revisão da Constituição discutida em 2010, que entre outras medidas propunha a total liberalização dos despedimentos. E de pouco serve sugerir, de novo, que os bons resultados alcançados pela atual maioria e pelo atual Governo, na economia e no emprego, são mérito das «reformas» empreendidas pela anterior maioria de direita. Como já demonstrámos aqui, o «empobrecimento competitivo» e a «austeridade expansionista» terminaram em 2013, por força do travão do Tribunal Constitucional a uma nova dose de cortes nos salários e nas pensões e pela aproximação das eleições de 2015, que levou o Governo de direita a suspender a fúria austeritária.
Passos pode e deve voltar a assumir publicamente as suas ideias para o país. É politicamente mais honesto e claramente preferível ao vazio de propostas em que o seu partido mergulhou nos últimos dois anos. Mas como o ex-primeiro ministro tem hoje noção de que essas ideias perderam apoio eleitoral (não só pelo seu comprovado fracasso mas também pela demonstração de que afinal havia alternativa), vale tudo para tentar conquistar votos. E é nesse contexto que surge a segunda nota digna de registo no discurso do Pontal: a deriva populista e xenófoba que a frase da noite proferida por Passos encerra, e cuja análise - no seu significado e demagogia - é feita de modo certeiro aqui e aqui. Sim, há algo de novo no PSD para lá da ideia de regresso ao empobrecimento e à austeridade: o apoio a André Ventura em Loures não foi uma coisa circunstancial, foi mesmo o primeiro passo para «testar Trump» no nosso país.

Fonte: Ladrões de Bicicletas

domingo, 6 de agosto de 2017

"Precariedade" é um conceito bem-comportado


Posted: 03 Aug 2017 11:32 AM PDT
Fonte: Gráfico 1, Inquérito ao Emprego e Quadros de Pessoal, valores actualizados a preços de 2016; Gráfico 2: Inquérito ao Emprego (INE), desemprego em sentido lato (milhares) = desemprego oficial + subemprego + inactivos que querem trabalhar


Qual dos dois gráficos explica o outro?
1) O desemprego está a cair porque os salários estão a baixar? Menores encargos salariais e de despedimento aumentam a margem das empresas para contratar mais mão-de-obra de baixos salários. E, por isso, deve adoptar-se todos os dispositivos legais que impeçam os salários de subir;
2) Ou os salários estão a cair porque o desemprego nunca atingiu tanta gente? Ainda há um milhão de pessoas por empregar. Isto sem contar com a emigração. E isso quer dizer que os salários apenas subirão quando se absorver este desemprego crónico, que se prolonga há década e meia, reduzindo o potencial económico de Portugal, degradando as suas contas orçamentais e da Segurança Social e contaminando o nosso futuro ao empurrar para fora jovens especializados que apenas encontram empregos de baixos salários.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Bardamerda para o mérito



(In Blog O Jumento, 25/05/2017)
cheer


Tanto António Costa como Marcelo Rebelo de Sousa decidiram considerar que a saída do procedimento dos défices excessivos foi mérito de todos os portugueses, de caminho Marcelo terá telefonado ao primeiro-ministro para o felicitar, tendo ainda feito o elogio público do ex-primeiro-ministro. Pelo ambiente de festa e de parabéns fiquei com a sensação de Portugal tinha feito anos e até haveria bolo de aniversário e o competente espumante produzido segundo o método champanhês.
Mérito de quê?
Tanto quanto me recordo nunca fui voluntário de qualquer esforço coletivo, muitos portugueses e principalmente os que votaram no PSD foram enganados com falsas promessas eleitorais, muitos dos que votaram PS não esperariam pelo espetáculo triste proporcionado por Seguro. Muitos dos que votaram no PSD e ficaram com cortes nos vencimentos e nas pensões confiaram em quem lhes garantiu que não o faria.
Mérito por ter sido enganado, mérito por ter ficado com um corte de rendimentos de quase 30%, depois de somadas todas as artimanhas inventadas pelo governo de Passos e Portas para empobrecer os portugueses e, principalmente, os funcionários públicos e reformados? Mérito por ver os filhos partir para os quatro cantos do mundo? Mérito por ter um salário mínimo congelado ao mesmo tempo que se aumentava o IVA nos bens essenciais e na energia? Mérito por se morrer à espera de ser atendido numa urgência?
Há uma grande diferença entre o líder de uma claque ou um treinador de futebol e um primeiro-ministro ou um ministro das Finanças. O que sucedeu em Portugal foi muito mais do que um esforço coletivo, foi uma tentativa desastrada de promover uma brutal transferência de rendimentos, aumentando a injustiça social, com o objetivo de resolver a falta de capital de uns à custa da subsistência de outros.
Da parte que me toca não tive qualquer mérito sem ver aumentado o horário de trabalho sem qualquer compensação, de ter ficado sem feriados sem ser remunerado por isso, por ter perdido direito a férias só para que Passos me exibisse ao ministro das Finanças da Alemanha. Não sinto que tenha tido mérito quando fui exibido como uma "despesa pública", quando fui acusado de ganhar mais do que os outros, quando fui acusado de, enquanto funcionário público ou reformado, de ser o culpado dos males do país.
O país não é um imenso grupo de cheerleaders (como as da foto) a quem o chefe vem agradecer o belo desempenho no fim do jogo. Há os que partilhavam a mesa e os negócios com o Ricardo Salgado e os que foram enganados pelos BES, os que aguentaram a austeridade e os que diziam que os outros aguentavam, aguentavam, os que passaram fome e os que compraram carros de luxo cujas vendas aumentaram.

Ovar, 25 de Maio de 2017
Álvaro Teixeira

domingo, 21 de maio de 2017

Não, não há milagres por estatuadesal

 

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 20/05/2017)
AUTOR
Miguel Sousa Tavares
Ouvir Maria Luís Albuquerque a querer dar lições de economia ou finanças públicas a este Governo (ou a qualquer outro); ouvi-la prever catástrofes, em tom catedrático, e depois, quando as anunciadas catástrofes se revelam afinal sucessos, reclamar para si os louros dos mesmos; ouvi-la criticar as políticas de contenção de despesa pública que anunciou fazer e não fez e preconizar agora o contrário daquilo que defendeu quando no Governo, tudo isso me tira do sério.
Ouvir a desfaçatez com que o governante cujas decisões mais caras nos saíram desde o 25 de Abril pretende dar sermões morais sobre o dinheiro mal gasto dos contribuintes é puro desplante. Ver quem (juntamente com Carlos Costa e Passos Coelho) espetou mil milhões no Banif, para no fim essa banqueta insular ir à falência e custar mais três mil; quem andou anos a fio a assistir impavidamente ao acumular de prejuízos na Caixa Geral de Depósitos; quem se decidiu a experimentar a receita (até hoje, única) de espetar cinco mil milhões na Resolução do BES e na criação do Novo Banco (que rapidamente tratou de os fazer desaparecer), vir agora chorar pelos contribuintes que serão prejudicados pela prorrogação do prazo de pagamento dos quatro mil milhões que o Estado lá meteu pelo Fundo de Resolução (e cuja exigência de pagamento agora levaria à falência o que resta de banca), é verdadeiramente gozar com a nossa cara. Ver a senhora cuja teimosia em enfrentar o Santander na questão dos swaps nos custou mais umas centenas de milhões de euros atrever-se a falar em más decisões contratuais por parte do actual Governo, reflecte bem o seu sentido de responsabilidade política. Ver a senhora que, juntamente com Vítor Gaspar e Passos Coelho, conduziu políticas que forçaram a falência de milhares de empresas viáveis, que mandou para o desemprego 400 mil pessoas e metade disso para a emigração, ter a suprema lata de vir reclamar, por pretensas reformas que não fez, a paternidade da queda da taxa de desemprego abaixo da marca dos 10% e a criação de 120 mil postos de trabalho desde que tivemos a felicidade de nos vermos livres do Governo de que a senhora fazia parte, é apostar na amnésia colectiva. Se tivesse um pingo de pudor político, já se teria há muito calado de vez ou teria emigrado daqui — lá para onde os seus revelados talentos de economista sejam reconhecidos, como fez o seu antecessor. E se o PSD ainda conseguisse manter alguma lucidez de espírito no meio do desnorte em que navega, há muito que a teria reduzido ao silêncio, em lugar de a manter como porta-voz do partido para as questões económicas. Quantos portugueses imagina o PSD que votariam agora num governo chefiado por Passos Coelho, com Maria Luís Albuquerque a ministra das Finanças, Rui Machete a ministro dos Estrangeiros, Miguel Relvas a ministro da Presidência, e por aí fora?
Compreendo que não seja fácil a posição do PSD. Para começar, em circunstâncias bem difíceis, conseguiu ganhar as eleições mas viu-se desapossado do poder que já festejava por uma jogada de mestre de António Costa e uma insólita conspiração de contrários. Mas foi também assim, recorde-se, alinhando numa ainda mais antinatural conspiração de contrários, que PSD e CDS chegaram ao poder, derrubando o Governo do PS. Depois, todas as previsões de desastre anunciadas pelo PSD, o Diabo encomendado por Passos Coelho, o insucesso “matematicamente” garantido por Maria Luís Albuquerque no cumprimento dos 2,5% de défice previstos pelo actual Governo e a anunciada inevitabilidade de um orçamento rectificativo, algures a meio de 2016, tudo saiu, não apenas furado, mas ridicularizado. O défice foi de 2%, o mais baixo da democracia (com o saldo primário mais alto da zona euro); ao contrário do que aconteceu com todos os orçamentos do Governo PSD-CDS, não houve necessidade de qualquer orçamento rectificativo por desacerto entre as previsões e a execução; e, quanto ao Diabo, estamos assim, actualmente: a maior taxa de criação de emprego da zona euro e o a terceira maior taxa de crescimento do PIB na Europa. Enfim, e mais traumático do que tudo, deve ser perceber que isto aconteceu devido a uma combinação entre as medidas virtuosas que o anterior Governo anunciou e não fez (a contenção da despesa pública, que substituiu pelo “enorme aumento de impostos”) e a adopção de outras medidas que eles haviam jurado estarem erradas, como a aposta no relançamento do consumo privado, através da devolução parcial de alguns dos rendimentos mais baixos, que o anterior Governo cortara. Ou seja: de fio a pavio, os factos e os números (que valem bem mais do que os estados de alma ou as promessas eleitorais) provaram que a política económica do anterior Governo estava errada e foi um desastre para o país e para a vida concreta de milhões de portugueses. Não o reconhecer, não aprender com os factos e manter o mesmo discurso, pretendendo ainda que os portugueses lhes reconheçam os méritos das melhoria da conjuntura devido a ter-se feito exactamente o oposto do que preconizavam, ou é desespero ou é má fé.
É certo que a conjuntura internacional, em parte, tem ajudado este Governo. Mas também ajudou antes: o petróleo estava igualmente barato, o BCE já comprava dívida portuguesa, as taxas de juro estavam igualmente baixas para os privados e o Estado estava protegido da sua subida pelas condições do resgate da troika e dispondo ainda dos 78 mil milhões que esta nos havia emprestado (e que poderiam e deveriam ter sido usados para sanear a tempo a banca). Não, o que falhou foram as políticas e a teimosia, feita altivez, em insistir nelas e “ir ainda além da troika”, logo que se começou a verificar o efeito devastador que elas tinham sobre toda a economia. Como então aqui escrevi, quem tinha falido era o Estado e, para acorrer à falência do Estado, liquidou-se a economia, sem ao menos reformar o Estado — garantindo aquilo que Paulo Portas havia solenemente prometido: que no final do mandato teriam criado condições para que Portugal nunca mais tivesse de pedir para ser resgatado. Esse perigo mantém-se, porque, infelizmente, também não é este Governo, dependente de dois partidos que só pensam em aumentar a despesa pública, que irá reformar a administração pública e as mentalidades. Em estado de necessidade, quase em rigor mortis, como estávamos em 2011, Passos Coelho e Paulo Portas tinham as condições e o dever de o fazer — o país, grande parte dele, tê-lo-ia compreendido e aceitado. Mas não o fizeram e raras vezes se pode reescrever a história. Hoje, quando o próprio FMI e a Comissão Europeia reconhecem os erros cometidos em Portugal e na Grécia, a posição de trincheira do PSD não tem nada de estóico, apenas teimosia irracional e orgulho suicidário.
É verdade que Passos e Portas governaram em condições de extremas dificuldades — herdadas e que a sua estratégia ainda agravou mais. Mas também isso não serve de desculpa, pois eles quiseram governar, sabendo ao que iam. No momento em que os dois partidos da direita se juntaram aos dois de extrema-esquerda para chumbarem o PEC4 de José Sócrates (que fora aprovado em Bruxelas e Berlim), eles sabiam três coisas: que a única alternativa que restava era um pedido de resgate à troika; que José Sócrates se demitiria; e que era muito provável que, nessas condições, PSD e CDS ganhassem as eleições e assumissem o governo. Não foram, pois, ao engano nem por sacrifício patriótico: foram por vontade de poder. O que é legítimo, mas não pode depois ser usado como desculpa para as dificuldades da governação.
(Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia)
 
Ovar, 21 de maio de 2017
Álvaro Teixeira

segunda-feira, 24 de abril de 2017

O POPULISMO À PORTUGUESA! (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 20/04/2017)
portas_feiras
O Paulinho das Feiras

 
Remetendo-me apenas para a história pós 25 de Abril de 74, o “Populismo”, agora tão em voga como modo de, aproveitando o cansaço provocado pelas políticas seguidas durante anos e anos por arcos de governação e alternância de pessoas e partidos, que não de políticas, chamar a si os descontentes, os desintegrados, os alheados, os desinformados, os desesperançados, os amuados, os transtornados, os desempregados e os não filiados, oferecendo-lhes soluções fáceis e às vezes até radicais, nunca teve grande “pasto” nesta terra! E não tem ainda…
Os fenómenos estão aí, à frente dos nossos olhos e ouvidos, com protagonistas reclamando uma superioridade moral que nem de perto nem de longe possuem, e diferentes meios que fatalmente não terão também, que apelam às pessoas, as atrás referidas, para a experimentação de algo novo e diferente, algo que os políticos “corruptos” da alternância já não lhes conseguem oferecer.  De modo parecido com as “seitas” religiosas e as “igrejas” redentoras que prometem céus…a troco do dízimo…Ou virgens sem conta num outro mundo…
No entanto o “Populismo” sempre foi uma forma usada para alavancar “massas” descontentes e que não querem revoluções. Chame-se ele “Peronismo”, “Caudilhismo” ou outros “ismos” mas, em Portugal, isso nunca teve grande “chão”, pese o Salazarismo, para se afirmar, impor, crescer ou florescer.
Mas, se repararmos, tentativas não faltaram e não vou sequer falar do PRD, que foi um epifenómeno. Logo a seguir ao 25 de Abril os então fundadores do agora PSD logo apelidaram o seu novo partido de PPD: Partido Popular Democrático! Popular por opção e Democrático porque tinha que ser. Mas, Freitas do Amaral e Amaro da Costa, vendo o “Popular” já reclamado, decidiu que o seu partido seria do Centro, Democrático, claro, mas Social! E rigorosamente ao centro, como as próprias setas o indicavam. Mas também Democrata e Cristão como filosofia agregadora e diferenciadora.
É claro que os nomes pouco significam e os espaços situados entre a direita e o centro, principalmente este, disputados por três partidos (CDS, PPD e PS), começou a ser o objecto de todas as disputas pelo que, carecendo a situação de alguma definição, o PPD abandonou o “Popular” e tornou-se PSD (Partido Social Democrata), para disputar esse centro com o PS. Mas o CDS, de imediato, abandonou a Democracia Cristã, e os Democratas Cristãos o CDS, e tornou-se ele mesmo num Partido “Popular”, para disputar, além desse famigerado centro, também a direita, mais ou menos órfã.
E foi aqui que, depois de vários líderes e de um indefinido Manuel Monteiro, irrompeu o “Popular”, o “Popularucho”, o nosso “camaleão”, o nosso “Peppe Grillo” também, o nosso Paulo de Sacadura Cabral e Portas.
Que, ao mesmo tempo que se reclamava defensor intrépido dos “feirantes”, dos “retirantes”, dos “Antigos Combatentes” e do espírito da Ordem e da Grei, também se afirmava o defensor do “contribuintes”, dos “reformados”, dos afamados e dos não afamados, dos lavradores, das donas de casa e ainda de todos os habitantes nocturnos do Parque Eduardo VII…e sei eu lá que mais…
Aliás, os seus mais diversificados adereços capilares assim o indicavam: um boné para ir ter com os lavradores, uma boina para falar com os Antigos Combatentes, um boné tipo “americano” para ir falar com os contribuintes, um chapéu de abas para falar com os reformados e uma peruca para…
Mas este era um “populismo” bacoco, pois se notava na perfeição que a cara não batia com a careta, a figura não condizia com o personagem e a “bota” não batia com a “perdigota”! O Poder é um afrodisíaco tal que faz da sua tentação uma sublimação ainda maior, mesmo que em tempos de crise, não servindo esta como anestesiante desse fervor e entusiasmo. Esse sim, o Poder, é o sítio revigorador de todo o “Populismo”, ou o seu contrário! E assim sucedeu e o  nosso “Peppe Grillo” deu de “frosques”, pôs-se no “piro”… Mas para paragens que, além de afrodisíacas, são também paradisíacas…
E, finalmente, enquanto por cá um anti populista conseguiu erguer uma simbólica barreira a esses movimentos tão em voga por este Europa e pelo mundo fora, testando, com êxito, o nunca testado, a sua, dele Paulo Portas, sucessora, apostada em ultrapassar pela curva direita o seu antigo mas adormecido Ex chefe ( o do Pin) ela tenta ressuscitar o seu “Portismo”, ao qual eu chamo de “Populismo à Portuguesa”.
E, a verdade seja dita, vendo o outro a dormir a sesta à espera do dia em que lhe saia o Totoloto, ela resolve concorrer a Lisboa. Ele entreabre os olhos, olha para o relógio e diz: ainda é cedo! Então ela desata a prometer fim de “taxas e taxinhas”, mais impostos e coimas, mais….até que o outro, ainda sonâmbulo diz: já devem ser horas, vou acordar! Mas repara então que, enquanto dormitava, a fulana escaqueirou todo o seu sonho. Que lhe restava agora prometer? Só lhe restava apresentar uma “Treza” que, além de “tesa”, também é Leal e Coelho. Tudo bem, mas ela? Nada!
E, aproveitando o estado de hibernação colectivo dos seus Ex aliados, socorrendo-se da ideia do PRESI…a D. Maria de Assumpção de Oliveira Cristas Machado e Uber, profere a tonitruante e definitiva promessa: com ela…”adios” aos “Sem Abrigos”….Brilhantérrimo!!!
Mas estou um pouco preocupado: que irá agora a “Treza” prometer?
É que eu aposto que o PP já é CDS outra vez! Porque não o PSD voltar a chamar-se PPD?
Passos, é só uma ideia, eu sei, é só mais uma, sei também, mas é de graça, como todas as outras que lhe dei e que o Senhor mandou pra canto. Então está aí o “Populismo” à frente dos seus olhos e o Senhor não os abre? Qualquer dia vai tarde…
Já prometeu tudo em 2011? Como o percebo…eu também estaria descoroçoado!
 
Ovar, 24 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

segunda-feira, 17 de abril de 2017

ASSUNÇÃO, A SANTINHA DO CALDAS (estatuadesal)

 

(Soares Novais, in A Viagem dos Argonautas, 16/04/2017)
santinha
 
Foi numa destas noites. Estava eu a fugir à metralha dos “doutores da bola” quando passei a correr por aquele canal que a todas as horas nos enche o dia de sangue e de histórias que fazem chorar as pedras da calçada. Ouvi: “A santa do Povo”. Voltei atrás, ao dito.  E logo me saltou à vista a Maria da Assunção, mais conhecida por Cristas. A que rendeu o Portas. Pensei para os meus botões: os tipos estão a chamar santa à Maria da Assunção?!
Perante tão angustiante dúvida fiquei pelo “tal canal”. Além de mais, entre ver e ouvir os “doutores da bola” e confirmar ou não a santidade da Assunção a diferença era nenhuma. Explico: os “doutores da bola” apresentam-se como castos e santos defensores dos clubes que representam, imunes a cartilhas e ordens papais; e a Cristas do PP avançou para a conquista de Lisboa ao infiel Medina sem pedir a benção do bispo da São Caetano, à Lapa. Não foi preciso esperar muito para desfazer tão angustiante dúvida, como já aqui disse: a Assunção, apesar da sua condição de católica e de liderar um partido dito democrata-cristão, não é a “Santa do Povo”. A “Santa do Povo” é Lúcia, a pastorinha de Fátima, cuja canonização o Papa Francisco, anunciou em Março, e de quem o “tal canal” vai transmitir uma “entrevista inédita”.
Por ora, a Maria da Assunção é apenas comentadora do canal que jorra sangue e conta histórias que fazem chorar as pedras da calçada. Ou se se quiser a “santinha do Caldas”. Do largo e da casa que já teve como pároco Portas. O Paulinho das Feiras, hoje avençado de uma petrolífera mexicana e do comendador Mota, que é aquele senhor de Amarante especialista em dar emprego ex-governantes…
Portas escolheu-a para continuar a sua missão. A missão de benzer os saudosos do santinho de Santa Comba Dão e do cónego Melo de Braga; os feirantes de todas as feiras do país; os retornados do outrora Ultramar português; e o padre que expulsou o maestro gay da igreja de Castanheira de Pêra. E fez bem, ao que parece.
A Assunção tem-se mostrado à altura da missão. É uma crente devota, gosta de dar beijinhos às velhinhas e aos velhinhos, às meninas e aos meninos, assume-se como “católica praticante” e os dedos das duas mãos não chegam para demonstrar a sua bondade.
Que o diga Maria Luís! Bastou-lhe enviar um “email” para que Cristas, mãe zelosa de quatro filhos em férias, concordasse com o desmantelamento do BES/GES. A colega, que saiu da austera e idolátrica Braga para cair nos braços das altas esferas terrenas, como o senhor Schäuble, por exemplo, agradeceu-lhe a confiança e resolveu o assunto, De uma penada. Tal como Assunção fez em recentes declarações ao Público:
“Como pode imaginar, de férias e à distância e sem conhecer os dossiês, a única coisa que podemos fazer é confiar e ser solidários, isso é para fazer, damos o OK…”
Ou seja: a Maria da Assunção deu o “OK” e o BES/GES ficou “KO”. E nós, os contribuintes, lá tivemos que dar mais uns “milhares” para a caixinha de esmolas que, dizem, ter salvo o “sistema financeiro” de cair no mais profundo dos “infernos”. Mesmo aqueles a quem a oratória  do santo e pecador Portas nunca convenceu…
Cristas acredita em tudo o que lhe dizem.  É uma crente, pois. E quando lhe interessa diz desconhecer. Como aconteceu, esta semana, quando foi interrogada sobre uma acusação feita ao Ministério Público (MP) que tem como alvo Portas e em que este é acusado de ter favorecido um dos seus actuais patrões, a Mota-Engil: “Não tenho nenhuma informação sobre isso.” Para logo acrescentar: “Nem sei de que questão estão a falar.” Isto é, a Assunção do Caldas só lê a cartilha que lhe interessa. Por isso não leu que a construtora Tecnorém se queixou ao MP de “um claro favorecimento da Mota-Engil” no concurso para a construção da Escola da Nato, em Oeiras. Portas era vice-primeiro-ministro e o director-geral de Recursos da Defesa Nacional, Alberto Coelho. Foi ele que lançou o concurso e é ele que preside ao Conselho de Fiscalização da seita que, entre outros, tem como um dos seus membros mais destacados o diácono Telmo Correia.
Mera coincidência, já se vê. Como aquela que se verificou quando foi feita a compra dos “indispensáveis” submarinos. Ou como aquela que daqui a um mês bem pode juntar Maria da Assunção e a convertida Zita aos pés da Virgem, em Fátima. Unidas pelo “amor ao próximo” e por ambas acreditarem, apenas, na justiça divina…

Ovar, 17 de abril de 2017
Álvaro Teixeira