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domingo, 19 de novembro de 2017

Longe da Dinamarca

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 17/11/2017)

azeredo1

Em matéria de escândalos, o maior de 2017 (até agora, mas ainda há tempo para superar a marca) na categoria imprensa é o da publicação de excertos de um suposto relatório de um suposto serviço de informação militar pelo Expresso (Ver aqui). Tudo no episódio tresanda a golpada política, uma repetição da “Inventona de Belém” no que ao intento de ataque político e promoção de alarme público diz respeito. Primeiro, não compete a qualquer serviço de informação, militar ou civil, estar a coligir e tratar opiniões estritamente políticas e de natureza subjectiva. Segundo, mesmo que elas sejam inclusas nalgum relatório, serão sempre como apêndice de contexto e sujeitas ao sigilo institucional que justificará a sua recolha. Terceiro, a decisão de fazer chegar a jornalistas um relatório secreto que vai ser explorado sensacionalmente como arma de arremesso contra o ministro da Defesa configura um crime. Se não for crime já com moldura penal aplicável, de certeza que ficaremos a precisar de uma. Porque quem tal fez expôs material relativo à segurança nacional a quem não tinha autorização para o consultar, pode-se até esquecer o uso que depois foi feito do mesmo embora seja uma agravante.

As explicações dadas pelos responsáveis do Expresso ficam como um monumento à desonestidade intelectual, expõem impante aversão ao código deontológico da profissão. Agarraram-se à prova de terem na sua posse 63 páginas escritas por alguém, e que nelas estavam realmente as passagens que resolveram publicar e destacar. Assumiram a postura mental de uma criança de 7 anos que foi apanhada a meter as mãos no bolo de aniversário às escondidas antes da festa e que depois se desculpa repetindo que o bolo estava ali em cima da mesa, pelo que a culpa era de quem o lá tinha deixado. Mas nada quiserem assumir em resultado de todos os serviços de informação militar terem declarado oficialmente não terem produzido essa resma de folhas. Ou seja, perante a resposta estatal ao mais alto nível que colocava esse documento, no máximo, como uma peça cujo âmbito e resultados não tinham sequer entrado nas operações formais dos serviços secretos militares, e ainda menos tinha chegado aos órgãos institucionais servidos pelas secretas, os responsáveis por uma escabrosa e indigna notícia falsa optaram pela absoluta irresponsabilidade.

A coisa tem relação com outra coisa, chamada “Operação Zeus”. O que nela surge gravado na acusação, mas com provas que parecem indiscutíveis, será, por sua vez, o maior escândalo nas Forças Armadas até onde a minha memória alcança. Um escândalo em que os valores pecuniários envolvidos são a parte que menos gravidade tem. É o esquema, a sua extensão e a sua duração que mais importa legal, cívica e, acima de tudo, politicamente. Porque quando se põe como hipótese, nascida de testemunhos, que esse tipo de corrupção possa ocorrer há pelo menos 30 anos, e quando se olha para as patentes dos arguidos, então é perfeitamente legítima a suspeita de estarmos, apesar do choque, apenas a olhar para a ponta do icebergue. Isto também se liga, fundamentalmente, com a nossa imprensa (ou falta dela).

No caso do desaparecimento das armas em Tancos houve logo ao começo um aspecto que sobressaiu, tendo ficado ocultado no fluxo noticioso e opinativo seguinte – o da tensão, e mesmo conflito, entre as judiciárias militar e civil. Essa disfunção, posto que era suposto termos os dois corpos policiais a colaborarem exemplarmente, rebentou num novo escândalo, igualmente de imediato abafado, aquando da recuperação do material na Chamusca; onde a Polícia Judiciária Militar esteve no local durante um tempo indeterminado antes de ter chamado a PJ. Que se está a passar? Por mais jornalistas e jornaleiros que consultemos de nada de nada ficaremos a saber. O caudal noticioso e opinativo produzido tem sido um exercício clássico de baixa política e assassinato de carácter. Nesta autêntica campanha pela demissão de Azeredo Lopes, liderada pelo Expresso e pelo DN, a figura de Marcelo tem sido instrumental. Embora as suas declarações sobre o caso de Tancos sejam, literalmente, de um rigor institucional sem mácula – posto que se limita a dizer que se tem de investigar, e só depois apurar responsabilidades judiciais e políticas – elas são invariavelmente apresentadas como se fossem uma forma de crítica e pressão sobre o ministro da Defesa. Como se competisse ao Governo fazer o trabalho das polícias, é o que a imprensa portuguesa tem vendido desde que se tornou público o desaparecimento do armamento. Marcelo poderia pôr na ordem a comunicação social, mas também aqui está a fazer uma gestão política cuja lógica é similar à dos jornalistas: aproveitar os casos que apareçam para avançar com a sua agenda. Mas qual é a agenda dos jornalistas que fizeram uma jura para abater o Azeredo, antigo par com quem talvez tenham contas a acertar ou a quem não suportam o estilo por ser demasiado independente da pressão mediática para o que estão habituados?

A resposta, qualquer que ela seja, está ligada com esta evidência: nunca ninguém leu no Expresso, no DN, ou viu na SIC, ou ouviu na TSF, ou noutro órgão à escolha, uma reportagem, uma mísera notícia, que permitisse começar a desvendar o que se passa nas Forças Armadas; lá onde a corrupção, como se deixa indiciado pela “Operação Zeus”, criou um verdadeiro Estado militar. Em contrapartida, Azeredo Lopes tem mostrado conseguir enfrentar as pressões castrenses sem vacilar no respeito pelo interesse público e pela Lei, como se viu no caso do Colégio Militar.

Quando vemos jornalistas a aceitar e publicar documentos apócrifos com ataques políticos canalhas, ou quando vemos jornalistas a perverterem declarações numa entrevista para criarem desgaste político e o abate de um governante, a única conclusão é a de que algo cheira a podre. E essa podridão está muito longe da Dinamarca.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

O ferro-velho de Tancos



por estatuadesal
(João Quadros, In Jornal de Negócios, 14/07/2017)
quadros
(Devo confessar que começo sempre bem os fim de semana, porque me rio à brava com as crónicas do João Quadros. Mas nesta, o homem excedeu-se. Está divinal. A não perder.
Estátua de Sal, 14/07/2017)

Depois de o especialista em coisas com balas, Nuno Rogeiro, ter dito que o assalto a Tancos era o mais grave roubo de armas desde as Guerras do Ópio de 1860, o CEMGFA, Pina Monteiro, revelou que o valor do material roubado ronda os 34 mil euros e que os lança-foguetes roubados não devem poder ser usados porque eram material destinado para abate. O "não devem ser usados" é um aviso aos ladrões, não vão eles tentar usar aquilo e magoarem-se. Ainda queriam que o Costa viesse de férias por causa de 34 mil euros em fisgas para canários. Fazendo as contas, o maior prejuízo foi a rede.
No fundo, roubaram o equivalente a dez viagens ao Euro 2016. Se as armas roubadas não funcionavam, se calhar eram lança-rockets do SIRESP. Faz-me confusão tanto trabalho para roubar 34 mil euros em armas que não funcionam. Vai ter de haver demissões entre os criminosos. Se o CEMGFA diz que o valor do material roubado ronda os 34 mil euros, mais valia terem roubado o carro do general.
Se "os lança-foguetes roubados não devem poder ser usados porque eram material destinado para abate", se calhar, roubaram para fazer candeeiros. Começo a ficar convencido de que, afinal, as espadas que os oficiais iam entregar ao Presidente da República eram de plástico.
António Costa, depois da reunião com a tropa toda, veio dizer que, do roubo de material de guerra de Tancos, foram retirados ensinamentos. Já não bastava as armas, ainda retiraram ensinamentos. O pior é que, normalmente, em Portugal, os ensinamentos retirados acabam por nunca ser usados e vão para abate. Diz o PM que as armas roubadas não representam perigo para a Segurança Interna - qual segurança interna?! A que usa munição falsa para proteger um paiol de lança-rockets que não funcionam?! Eu acho um claro exagero chamar paiol àquilo.
No fundo, Costa veio dizer que, afinal, as armas eram de louro prensado e temos um Chefe das Forças Armadas que diz que o furto em Tancos "foi um soco no estômago". Foi um soco no estômago - foi o que disse o meu primo quando a namorada acabou com ele. Se o Chefe das forças Armadas considera o assalto a Tancos um soco no estômago, se houver um ataque terrorista, vai sentir o quê?! "Foi como se estivesse a ter dores de parto." "Foi como se tivesse uma pontada no pipi."
Conclusão de toda esta baralhada: afinal, foi a austeridade que nos safou ou, a esta hora, os criminosos teriam gamado armas que funcionavam e estávamos todos em perigo. É por estas, e outras, que a Merkel merece o Nobel da Paz.

TOP 5
Sucata
1. Passos copiou discurso do Facebook do seu ex-ministro Poiares Maduro - Cristas copiou o seu discurso do Facebook de Maria Vieira.
2. A filha da Carolina Patrocínio causa escândalo nas redes sociais - Se a PSP apanha a filha da Carolina Patrocínio com aquele bronze, dá-lhe uma sova.
3. Vaticano proíbe hóstias sem glúten - E crucifixos de quinoa.
4. O rei de Espanha teve 5000 amantes - Parou nas 5000. Ao menos mais 5, para fazer capicua.
5. Poiares Maduro já confirmou à RTP que Passos lhe pediu para utilizar umas frases de uma publicação no Facebook - Copiar um discurso sobre o estado da nação é o cúmulo da austeridade. Passos foi ao paiol do Poiares.

domingo, 9 de julho de 2017

Semanada



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 09/07/2017)
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Há muito tempo em silêncio a direita militar esteve há beira de vir para a rua, isto é, aqueles que no passado sanearam a esquerda militar com o argumento das manifestações esperaram pela aposentação e pela consolidação da democracia para se armarem em MRPP. Entretanto, alguns generais decidiram aproveitar-se do roubo de Tancos para extravasarem sentimentos antigos. Maus dias para a tropa, primeiro ficámos a saber que os arsenais de material militar são mais fáceis de roubar do que uma caixa de Multibanco, agora assistimos a um míni PREC da direita militar, a tal que era a defensora dos bons valores.
Marcelo parece estar à beira de mudar o Palácio de Belém para Pedrógão, se não vai à missa das oito vai ao concerto da noite, tudo o que por lá se passa conta com a presença do Presidente, está prometida a passagem do Natal e até lá é de esperar que seja o padrinho de todas as crianças que sejam batizadas. Talvez Marcelo não se aperceba, mas Pedrógão não é o único problema do país, vale pela dimensão, o somatório de todas as pequenas desgraças do país resulta num incêndio bem maior do que o que ocorreu naquela localidade.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Ena! Tantos defensores do Estado que estavam escondidos!



por estatuadesal
(Nicolau Santos, In Expresso Diário, 07/07/2017)
nicolau

De repente instalou-se a preocupação em muitíssimas almas, que antes se encarniçavam diariamente contra o Estado: não se pode cortar na despesa pública, sobretudo nas verbas para as forças militares e para a segurança em geral! A culpa é do Governo que preferiu aumentar salários e pensões. Se mantivesse a rapaziada a pão e laranja, tudo correria sobre esferas e não teria acontecido nem a tragédia de Pedrógão Grande nem o roubo de material bélico de Tancos, tal a verba que estaria disponível para bombeiros e militares!
Digamos que é preciso ter topete, falta de vergonha, descaramento. Depois de cinco anos (2011-15) em que o investimento público foi reduzido em 40%, em que houve cortes salariais nos funcionários públicos e nos pensionistas, em que foram fechados inúmeros serviços do Estado por todo o país (tribunais, lojas do cidadão, centros de saúde, etc, etc), em que se procedeu à diminuição brutal dos apoios públicos às famílias, em que houve uma ofensiva sem precedentes contra o Estado social, em que existiu sistematicamente um discurso culpabilizador de tudo o que fosse público como razão última para a crise, eis que todos os áugures ou arúspices, pitonisas e cassandras do país, que defenderam, apoiaram, estimularam, aplaudiram e acicataram estas opções e este discurso, dão uma volta de 180 graus e surgem a defender valentemente o Estado e as funções que desempenha, sobretudo de soberania e defesa.
Insisto: é preciso topete, falta de vergonha, descaramento. Se há coisa em que existe um alargado consenso político no país é sobre a redução do peso das Forças Armadas nos orçamentos do Estado, por estarmos em tempos de paz e por parte das nossas missões de soberania e defesa estarem agora delegadas em organismos supranacionais. A redução de verbas para as Forças Armadas não é de hoje nem de ontem: é de pelo menos o início deste século e atravessa vários Governos, tirando alguns epifenómenos como a compra de dois submarinos (que nos deram muito jeito…), alguns F-16 (que também foram um sucesso…) e mais uns Pandur (que correu igualmente muito bem…). Ah, pelo meio houve o fim do Serviço Militar Obrigatório em 2004, decretado pelo então ministro da Defesa, Paulo Portas, por imposição da Juventude Social-Democrata… queixando-se hoje os militares que estão com 30% de efeitvos abaixo do seu plano estratégico porque não há voluntários.
Ora perante tudo isto, utilizar as cativações como arma de arremesso político só pode ser feito por quem pensa que sofremos todos de amnésia compulsiva e generalizada.
A direita, melhor, esta direita encabeçada pela actual direcção do PSD, utilizou o Estado como saco de boxe durante cinco anos. Que agora venha clamar contra o enfraquecimento do Estado para atender a todas as suas responsabilidades só não mata de vergonha porque ninguém morre de vergonha.
Na verdade, o que a direita está a fazer é agarrar-se desesperadamente aos casos de Pedrógão Grande e de Tancos, porque estava sem discurso face aos resultados económicos que o país vem apresentando. E se no final do ano houver uma melhoria do rating, isso será um punhal cravado no coração dos que sempre acusaram os socialistas de despesistas, incapazes de qualquer rigor orçamental. Por isso, a direita invoca Pedrógão Grande e Tancos como quem chama por Santa Bárbara quando troveja. O problema é quando a trovoada passar.

Às armas, às armas



por estatuadesal
(João Quadros, in Jornal de Negócios, 07/07/2017)
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Dá a sensação que este assalto ao paiol deu menos trabalho do que ir ao Ikea buscar uma cama. Tenho a teoria de que o assalto ao paiol foi feito por senhoras que vão à abertura das lojas da Primark.

Assaltaram o paiol de Tancos e levaram diverso e mortífero armamento. A primeira pergunta que me apetece fazer é: as armas têm seguro? Não digo seguro contra terceiros, porque fazia pouco sentido, mas seguro anti-roubo. Dava jeito.
Nos últimos tempos, descobrimos que os alarmes em Portugal não funcionam em incêndios, nem em fuga de capitais, paióis e bancos. Só no raio do carro do meu vizinho às duas da manhã! É preciso ter azar.
No meio desta cegada toda sobre o assalto, há uma coisa que me faz muita confusão. Ver tropas especiais a queixarem-se que foram roubadas é o mesmo que ver escuteiros lixados porque ninguém lhes montou a tenda. Quando eu fui à tropa, se deixasse gamar a G3 ("a minha namorada"), estava totalmente tramado. Ainda hoje andava lá a limpar sanitas.
Custa a acreditar que Tancos, dos pára-quedistas e elite, tem segurança privada. E se calhar também tem uma senhora com uma vassoura porque eles têm medo de ratos. Dá para imaginar o seguinte diálogo:
Pára-quedista: - pareceu-me ouvir um ruído lá fora, comando...
Comando: - Não foi nada. Dorme sossegado o teu soninho. Temos os senhores da Securitas a zelar por nós.
Se é assim, em termos de segurança, acho melhor fazer de Tancos um condomínio fechado. Porque dá a sensação que este assalto ao paiol deu menos trabalho do que ir ao Ikea buscar uma cama. Tenho a teoria de que o assalto ao paiol foi feito por senhoras que vão à abertura das lojas da Primark. Aposto que a PJ vai dizer que o buraco na rede do paiol de Tancos foi feito por raio de trovoada seca.
Com o PM de férias, foi o ministro dos Negócios Estrangeiros que tomou as rédeas do caso e, pela cara do Santos Silva, dir-se-ia que quem gamou as armas foram os filhos do embaixador do Iraque. Por momentos, tive receio que Augusto Santos Silva dissesse que o Ministério da Defesa parece uma feira de gado.
Entretanto, Marcelo foi a Tancos fazer como o Poirot. O chamado CSI Marcelo. Foi investigar os roubos. A esta hora, o PR está a tirar moldes dos rastos dos pneus. Mas ainda bem que Marcelo foi lá para investigar. Se calhar, se o nosso PR tem ido para Tancos dar abraços e beijos, então é que seria o fim da virilidade da nossa tropa. Já basta terem deixado roubar as armas. Ainda tínhamos de ver Marcelo agarrado a um pára-quedista a dizer, soluçando:
"Fiquei sem nada. Levaram-me a antiaérea, o lança rockets, até a minha granada favorita". Depois as três televisões uniam-se para um espectáculo - Todos juntos outra vez - com música heavy metal para reunir dinheiro para ajudar Tancos.
Dê lá por onde der, o caso é grave. Ainda hoje, no Chiado, tentaram vender-me um lança-granadas de louro prensado. Mas, no fundo, o que é que se pode esperar de um país que incentiva a estas coisas no hino: "às armas, às armas". Se fosse "às drogas", era uma bronca.
Estou tão farto deste Verão e ainda agora começou. De agora em diante, para ficar mais descansado, eu acabava com os eucaliptos e com os paióis.

TOP 5
Saldos em Tancos
1. Rui Gomes da Silva nega ter assinado contrato de bruxaria - estava possuído.
2. Morreu Medina Carreira - Deus levou o Beleza e agora o Medina deve estar em apuros orçamentais. Espero que a seguir chame a troika.
3. Veículo com casal octogenário invade escadaria de igreja em Caminha - estiveram na Líbia aquando dos 50 anos de casados.
4. Cristas exige que o PM volte de férias - a diferença entre Passos e Costa é que as pessoas desejam que o segundo volte de férias.
5. "Estudo demonstra que as pessoas que têm pensamento positivo vivem mais sete anos e meio do que as que não têm" - as outras pessoas é que vivem menos por terem de aturar pessoas com pensamento positivo.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Carta de uma tropa-fandanga



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 05/07/2017)
Autor
                        Daniel Oliveira
Um conjunto de oficiais, ao que parece próximos dos cinco comandantes exonerados, desmarcou o protesto de hoje, em que se preparavam para aparecerem fardados em frente à Presidência da República, num ato de insubordinação pública e num intolerável desafio às instituições democráticas. Ouvi, dos bonzos do costume, o elogio ao patriotismo por a coisa ter sido interrompida. Patriotismo? Só o facto destes oficiais terem tornado pública uma iniciativa que, caso fosse preparada pelos seus inferiores hierárquicos os levaria a usar a sua mão pesada para repor a disciplina, é para mim assombroso.
A exoneração dos cinco comandantes é, do meu ponto de vista, uma fuga para a frente do Chefe de Estado-Maior do Exército. É a ele que cabe a demissão, responsabilizando-se por uma falha operacional inaceitável. Se era contra a decisão de Rovisco Duarte e a sua manutenção no lugar que estes oficiais se queriam manifestar, poderiam ter razão, mas estaríamos perante um levantamento militar contra o superior, o que só poderia ter consequências disciplinares severas. Mas os oficiais esclareceram-nos que não. Numa carta que parece um post de Facebook, as acusações vão, como não podia deixar de ser, para “os políticos”. E se é contra os “políticos” a malta aplaude. Porque se a culpa é de alguém é “dos políticos” e assim temos todos a certeza que podemos ser todos irresponsáveis. Lá estarão aqueles que servem para assumir a “responsabilidade política” para ninguém ter de assumir a responsabilidade real.
Neste preciso momento, os oficiais não têm qualquer legitimidade para protestar. Pelo contrário, o Exército deve um pedido de desculpas ao país por ter falhado na mais básica das mais básicas das suas funções. Primeiro mostrem algum sinal de vergonha perante o que aconteceu, só depois a indignação
Sendo para mim muito desconfortável ler cartas de militares a contestar o poder civil a quem devem obediência – pôr em causa esta obediência é, historicamente, o primeiro passo para pôr em causa a democracia –, sou obviamente sensível à queixa por falta de meios. Dos militares, dos médicos, dos professores, dos enfermeiros. Há muito que defendo que a obsessão com a contenção nas contas públicas e no emagrecimento do Estado, tão elogiada por aqueles que hoje cinicamente se colocam ao lado destes militares, levaria ao colapso dos serviços públicos. Mas poupem-nos, do Bloco ao CDS, passando por oficiais anónimos, à conversa da austeridade para explicar o assalto de Tancos. Não há contenção na despesa que explique tamanha incúria. Não há cortes orçamentais que expliquem uma falha desta magnitude. A austeridade é um crime mas tem, por vezes, as costas largas. E parece ser uma excelente forma de atirar a falha de cada um para as costas do ministro que estiver mais à mão.
Neste preciso momento, os oficiais não têm qualquer legitimidade para protestar. Pelo contrário, o Exército deve um pedido de desculpas ao país por ter falhado na mais básica das mais básicas das suas funções. O que o país precisa destes militares não é de oito páginas de paleio pseudo-patriótico para justificarem o cancelamento do que seria um vergonhoso ato de indisciplina. O país precisa de explicações muito claras sobre o que aconteceu em Tancos e só o Exército as pode dar. Talvez o facto de uma manifestação de militares fardados numa democracia consolidada ter passado pela cabeça destes oficiais ajude a explicar a balda instalada e este assalto tão absurdo que me parece mal contado.
Seguramente os portugueses serão solidários com as queixas dos militares perante os cortes absurdos que se continuam a fazer nos vários sectores do Estado, da saúde à educação, da segurança social à defesa. Desde que isso não sirva para o Exército atirar para longe as suas próprias responsabilidades. Primeiro expliquem-se, depois protestem. Primeiro mostrem algum sinal de vergonha perante o que aconteceu, só depois a indignação.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Entre Pedrógão e Tancos, a enxurrada oportunista



por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 04/07/2017)

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No início, a oposição manteve algum pudor perante a tragédia de Pedrógão. Sabia-se, e era legitimo que isso sucedesse, que as coisas acabariam por aquecer. Perante tantas mortes e tantas perdas, teriam de ser exigidas responsabilidades. E a ministra da Administração Interna estaria sob escrutínio rigoroso. Do meu lado, espero por factos. Para perceber se se confirma a única coisa pela qual esta ministra pode ser diretamente responsabilizada – a descoordenação no terreno de organismos e serviços que tutela. Se se confirmar isso levará à sua demissão.
Só que a impaciência com o diabo que nunca mais vem é grande. E o caso de Tancos fez PSD e CDS perderem a cabeça. A bebedeira demagógica está ao rubro. Assunção Cristas exigiu que António Costa regressasse de férias – até o facto do primeiro-ministro ir de férias está a ser usado como sinal de desnorte no governo – para demitir dois ministros. Carlos Abreu Amorim, que tem a característica de nunca saber muito bem onde fica a fronteira do ridículo, acrescentou à lista a ministra da Justiça. Ao que parece, não chegar a acordo com organizações sindicais é razão para demissão.
A ver se o debate ganha algum tino. Para demitir um ministro é preciso haver responsabilidades políticas num qualquer acontecimento. No caso da ministra da Administração Interna poderá haver, caso se prove a descoordenação no terreno, razões para a sua demissão. Constança Urbano de Sousa tem, como ministra, funções operacionais, já que o seu ministério é a cúpula de vários serviços. A coordenação no combate aos incêndios é, por isso, antes de tudo, responsabilidade sua. Já os problemas mais profundos, relacionados com a política florestal, não se devem nem a ela nem especialmente a este governo.
O ministro da Defesa não tem funções operacionais. Não é à sua guarda que estão os quartéis ou as armas. Ou há alguma prova de que ele falhou perante exigências das Forças Armadas e isso resultou neste assalto, ou a responsabilidade é de quem tem essa função: do chefe do Estado Maior do Exército, que não é um diretor geral do ministro. No dia em que decidirmos que os ministros da Defesa são responsabilizados por questões operacionais como esta teremos de lhes dar o poder para alterarem decisões operacionais da hierarquia militar. E isso seria, como qualquer pessoa percebe, um absurdo.
Claro que podemos decidir, como alguns já decidiram, que Pedrógão Grande e Tancos correspondem a um mesmo problema, construído em torno desta ideia uma narrativa sobre os cortes no Estado. É uma ideia interessante que tem duas consequências. A primeira é que ou se prova que este governo cortou naquilo que o anterior não cortava ou a oposição não tem grande coisa a dizer. Um exemplo: se a videovigilância não funciona há dois anos com que legitimidade Cristas, uma ministra do governo anterior, que estava em exercício quando essa falha começou, pede a demissão de seja quem for? A segunda é que se a questão for essa são o primeiro-ministro e o ministro das Finanças que ficam debaixo de fogo, não os ministros que foram vítimas dos cortes.
Se não for esta a razão dos pedidos de demissão, não há como tratar Pedrógão Grande e Tancos assuntos semelhantes e Constança Urbano de Sousa e Azeredo Lopes como ministros em situações comparáveis.
É natural que, perante os bons números da economia, a oposição tente criar uma narrativa unificadora de cada caso. Mas uma coisa é assumir que, com a soma de vários factos negativos para o governo, terminou o seu estado de graça, outra, bem diferente, é criar uma amálgama política que pretende levar na enxurrada do ambiente que se vive tudo o que apareça pela frente. Se exigimos rigor, temos de ser rigorosos na forma como o exigimos.

Este Costa é mesmo um mafarrico



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 04/07/2017)
COSTA_MAFARRICO

Este António Costa é mesmo o diabo, enganou o FMI, conseguiu levar o ministro das Finanças alemão a dizer que o Centeno é o Ronaldo do Eurogrupo, empanturrou-nos com propaganda, fazendo passar a ideia de que o défice estava controlado, que os investidores estavam a vir, que as exportações estavam a aumentar, que se tinha estancado a fuga de quadros.
O país estava de tal forma endrominado que comentadores com uma inteligência superior, como o José Manuel Fernandes ou o João Miguel Tavares, durante meses e meses encontraram na linha amarela do Metropolitano de Lisboa a grande desgraça nacional. Mas, finalmente aconteceu algo que provou que tudo era publicidade enganosa, que o país não era o das maravilhas.
Em vez de ter andando a testar o SIRESP, a comprar aviões e a formar bombeiros, instalando um quartel por cada cem hectares de eucaliptos, o Costa andou por aí a tirar selfies com o Marcelo e quando a desgraça ocorreu na sombra do seu desleixo, foram a correr fazer festinhas no dói-dói de Pedrógão.
Mas o Costa é o diabo em pessoa; quase aposto que foi ele que encheu uma caixa de pilhas Duracell e foi para Pedrógão fazer uma faísca tão grande que se parecesse com um trovão seco, desencadeando um incêndio. Assim o país não reparava nas críticas do João Miguel Tavares à linha amarela. Quando o pessoal percebeu que o SIRESP era uma espécie de BPN das florestas porque tudo onde os banqueiros do PSD se abonaram ardeu, o Costa encomendou ao mafarrico um assalto a Tancos.
De um dia para o outro os jornalistas mudaram-se de Pedrógão para Constança, os mortos da EN286 já estão enterrados e agora o que está a dar são as granadas e as munições de 9 mm. E o mafarrico do Costa foi de férias; com os incêndios pediam-lhe a cabeça da ministra da Administração Interna, mas com a tropa o problema não é dele. O big chefe da tropa é o Presidente e a alta distinção não serve só para ver cagarras com um blusão de almirante chefe.
E enquanto o Marcelo não vai saber o que fazer a tanta espada de oficiais zangados, o Costa está nas selfies com o pessoal de mama ao léu em Palma de Maiorca!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A AMÉRICA NO SEU "MELHOR"


O Partido Republicano dos Estados Unidos da América escolheu, ontem, 21 de Julho de 2016, o seu candidato que irá disputar a presidência nas eleições de Novembro próximo, contra a candidata do Partido Democrata.

O candidato, Donald Trump, representa aquilo que a América tem de pior, a xenofobia, o racismo e o regresso do país ao papel de “polícia do Mundo”. A extravagante ideia da construção de um muro ao longo de toda a fronteira com o México, uma ideia que esteve, sempre, presente nos comícios por onde passou faz-nos temer pelo futuro do nosso planeta, atualmente envolto em demasiados conflitos, o mais perigoso dos quais foi o surgimento do DAESH, só possível pela “loucura” do penúltimo presidente dos USA, que iniciou uma guerra contra um país soberano, embora governado por um ditador, baseada em mentiras “fabricadas” pela CIA.



Nunca é demais lembrar que foram George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar, tendo, como “camareiro” Durão Barroso, na famosa cimeira dos Açores que, com a sua loucura coletiva, deram origem ao inferno em que hoje se transformou o nosso mundo e onde a violência não pára de aumentar, no entanto, uma grande parte dos americanos não aprenderam com a lição, mesmo que muitas vezes repetida
.
Os massacres continuam a aumentar, a violência mortal por parte da polícia americana contra cidadãos negros indefesos é algo que deveria fazer corar de vergonha qualquer sociedade. No entanto, o poderoso loby do armamento, bem como dos seus apaniguados, continuam a defender uma lei, com mais duzentos anos, que permite aos americanos, a partir dos oito anos de idade, terem a sua própria arma. É a América no seu “melhor” e foi esta parte da América que escolheu Donald Trump para a governar e a representar no nosso Mundo.

A América dos “cow boys” e do “farwest”, afinal, continua a existir, para o nosso mal.
Estou esperançado que mais esta loucura seja passageira e que só dure até ao início de Novembro.


Ovar, 22 de Julho de 2016
Álvaro Teixeira